sexta-feira, outubro 31

Artes Popular: Zé Povinho de Rafael Bordalo Pinheiro.

Data de 1875 a iniciativa de maior alcance para Rafael Bordalo Pinheiro, com a criação do primeiro jornal dedicado à crítica social: “A Lanterna Mágica”. São companheiros de Bordalo neste empreendimento Guilherme de Azevedo (1840-1882) e Guerra Junqueiro (1850-1923), um projecto que faz a crónica dos factos sociais, enquanto tece a crítica às políticas e às instituições. Neste contexto, nasce a figura do Zé Povinho, tão acertada no seu conteúdo, que permanece no imaginário português com uma reforçada carga simbólica.
Definia-se o vasto campo da actuação de Bordalo, não só de expressão artística e de vivacidade de espírito crítico, mas de intervenção cívica e patriótica.

Depois da morte do jornalista, os seus discípulos deram continuidade ao Zé Povinho de várias formas e estilos. Bordalo Pinheiro ficou inscrito na história da imprensa como um símbolo do jornalismo apaixonado, como alguém que está sempre do lado dos que não têm voz nem poder.
De calças remendadas e botas rotas, Zé Povinho, é a eterna vítima dos partidos regenerador e progressista, dando a vitória a uns ou outros em época eleitoral.

quarta-feira, outubro 29

Pintura: Expressão no feminino - Vieira da Silva

"Um quadro deve ter coração, sistema nervoso, ossos, circulação. Deve assemelhar-se a uma pessoa em movimento. E preciso que aquele que olha se encontre perante um ser que lhe fará companhia, lhe contará histórias, lhe dará certezas. Porque o quadro não é evasão, deve ser um amigo que nos fala, que descobre as riquezas que se escondem em nós e à nos­sa volta."
Maria Helena Vieira da Silva, pintora portuguesa nascida a 13 de Junho de 1908, foi a autora desta frase.

Vieira da Silva demonstrou interesse pelas artes desde muito nova, nomeadamente pela música e literatura. Aos onze anos começou a estudar Desenho e Pintura na Academia de Belas-Artes em Lisboa.

Aos 18 anos, incentivada pela família, retirou-se para Paris e inscreveu-se nas academias Scandinave e La Grande Chaumière, trabalhando com Duffrene, Waroquier e Fernand Léger.

Em 1930 casou com um pintor húngaro que conheceu em Paris, Arpad Szenes. Na segunda guerra mundial regressou com o seu marido a Portugal, porém devido à política salazarista foram obrigados a refugiar-se no Brasil. O casal voltou a Paris, e ambos se nacionalizaram-se franceses em 1956.

Vieira da Silva, para além da sua obra em termos de pintura, também se aventurou em outras técnicas como o azulejo e também no mundo da ilustração de livros para crianças, tome-se como exemplo os livros “Kô et Kô” e “les deux esquimaux”.

A sua vida artística continuou ao longo de várias décadas, tendo em 1960 recebido uma condecoração do governo francês, em 1966 foi a primeira mulher a receber o Grand Prix National des Arts e em 1979 tornou-se cavaleira da legião de honra francesa. Porém em Portugal o seu talento e mérito só foram reconhecidos após o 25 de Abril e em 1988 com a atribuição da Grã Cruz de Santiago e Espada e da Grã Cruz da Ordem da Liberdade, respectivamente.
Com uma vida preenchida de arte, morre em 1992, aproximadamente 10 anos após a morte do seu marido, e é criado em homenagem do casal, a Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva em Lisboa.

segunda-feira, outubro 27

Literatura: O contributo de Alves Redol

O escritor Alves Redol nasceu na cidade de Vila Franca de Xira em 1911, no seio de uma família humilde de posses modestas, tendo havido a constante necessidade de trabalhar para auxiliar no sustento do lar. Adoptando uma certa filosofia de esforço e dedicação desde jovem, Alves Redol viria a tornar-se a voz dos trabalhadores, das injustiças sociais, mais que por tê-las testemunhado precocemente pelas dificuldades da família. Na literatura, este contributo revelou-se pela introdução do movimento neo-realista em Portugal.

Aos dezasseis anos concluiu o Curso Comercial e logo se deslocou a Angola para exercer o seu primeiro emprego, regressando à metrópole três anos mais tarde, onde viria a trabalhar em inúmeros locais. A sua intrusão no campo das letras deu-se no ano de 1936, aquando do início da sua colaboração permanente no jornal "O Diabo", para o qual escreveria crónicas e contos.

O seu primeiro romance, introdutor do movimento neo-realista em Portugal, recebeu o nome de Gaibéus (à esquerda) - nome referente ao tratamento dado a camponeses das Beiras que se dirigiam ao Ribatejo anualmente para participar na ceifa do arroz. Este romance aborda toda a temática, centrando-se nesta, das condições de vida dos camponeses ribatejanos. Para a elaboração desta obra pioneira, Alves Redol desenvolveu muito estudo de campo, incluindo certos períodos em que habitou com comunidades de trabalhadores para, com maior habilidade e certeza, mostrar interesse pelas actividades destes e poder retratá-las com exactidão. A propósito da publicação desta obra, confirma-se ter Alves Redol proferido: "este romance não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documentário humano fixado no Ribatejo. Depois disso, será o que os outros entenderem". E esta expressão sintetiza, mais do que uma vontade particular, todo o fim da corrente neo-realista: denunciar o estilo de vida miserável das camadas mais baixas e criticar de forma ousada os comportamentos das elites. Numa análise posterior e de maior profundidade, conclui-se que Alves Redol estava certo: a importância que o seu romance e a sua obra recolheram foi puramente a intervenção social na altura da sua publicação. Afirmo isto porque Alves Redol, e um leque muito maior de escritores desta época, têm vindo a ser prolongadamente esquecidos pelo público, comprometendo o seu carácter de aviso e denúncia social. Na actualidade, encontram-se poucas obras neo-realistas, tendo-se perdido o hábito da literatura de intervenção, que outrora movia multidões e irradiava ideais - daí que eu venha, nas próximas entradas deste espaço, promover o retorno do interesse a estas formas de expressão de meados do século XX. Pela constante crítica e denúncia das realidades vividas pela população portuguesa (em baixo), o escritor chegou a ser preso por razões políticas e seguidamente torturado.

O seu falecimento ocorreu em 1969, na capital, antes desta vivenciar o 25 de Abril que se reflectiria nos seus ideais. No entanto, importa referir o pioneirismo da obra de Alves Redol numa diferente faceta. O seu último romance e obra-prima, Barranco de Cegos, introduziu um carácter existencialista, colocando a preocupação social para um segundo plano, servindo de base para muitos escritores posteriores. Pode dizer-se, sem margem para questões, que Alves Redol foi o marco de uma corrente, havendo contribuído para o seu progresso e acompanhado a sua evolução até ao fim, a tempo de dar os primeiros passos numa nova corrente, a do existencialismo, onde o psiquismo assume a preponderância, remetendo a realidade visível e social para um plano secundário.

O contributo de Alves Redol foi este. Terá sido importante? Terá o tempo cancelado os seus efeitos duradouros? Cabe a resposta ao individualismo da nossa raça.

domingo, outubro 26

Música: Jazz e Blues...em Portugal?


O início do século, no que toca ao patamar musical, foi dominado pelo jazz, pelos blues nascidos nos espirituais negros. Mas esta é a situação americana e de outros países do mundo. Em Portugal nada disto foi verdade. Em Portugal , o protagonista foi o fado, não os blues, embora alguns defendam a tese de que entre o fado castiço e o jazz, e o fado em si e os blues tenham semelhanças rítmicas e sentimentais.

Tal facto pode ser entendido de um modo negativo, visto que o estilo representativo da época não se enquadrou nos padrões musicais lusitanos. O jazz e os blues, na sua época de ouro, apenas tiveram alguns efémeros representantes em Portugal, como a figura de Teresa Paulo (terá alguém ouvido falar dela?), figura essa inexistente até na mais completa fonoteca portuguesa, ou a organização Jazz Hot Clube (á esquerda), na altura restritíssima e apenas acessível a elites, sendo que apenas se abriu a um público mais alargado nos últimos anos. O saldo de blues em Portugal no início de século é quase nulo (excepto se formos um dos que considera o fado "o blues nacional"!).
Porém, a utilização da guitarra portuguesa como principal instrumento em Portugal, em vez do saxofone, deve ser entendida como positiva. Como base para tal afirmação, invoco a originalidade portuguesa e autonomia musical, a elevada qualidade do fado da primeira metade do século, e o manter das tradições e do produto nacional. Não que o fado seja um movimento anti-jazz. Não, de todo! Não esqueçamos as já mencionadas semelhanças! O ponto da questão é que o fado surge como um desviar das "modas" da altura.
De qualquer maneira, deixo-vos aqui um episódio de incursões aos blues em vozes portuguesas. O vídeo conta com a interpretação de Amália do clássico do soul "Summertime", originalmente composto nos anos 20, e mais tarde popularizado por ícones dos blues como Ella Fitzgerald e Louis Armstrong. Note-se a junção do sentimento lusitano, ao ritmo negro americano. Dentro de poucas semanas colocarei uma mostra do que é o jazz em Portugal em português de Portugal.
Tivemos, no entanto, de esperar pelo fim do século(!!!) para, finalmente, ouvir jazz em português, na voz de artistas como Rui Veloso, Maria João e Mário Laginha , e Jacinta. Claro que este cantar de blues não é uma cópia dos clássicos de início de século, sendo que o espírito português faz a diferença na adaptação do estilo americano á língua de Camões. Mas isso já é outra história, de outro artigo...


sábado, outubro 25

Cinema: A Produtora Invicta Film


O Início de Uma Produtora

Alfredo Nunes de Matos cria a sua modesta empresa de produções cinematográficas em 1910, mas é em 1912 que o produtor Nunes de Matos cria a “Nunes de Matos & Cia – Invicta Film”, na cidade do Porto.
Produziu documentários da actualidade, alguns com grande adesão pela sociedade da altura. Muitos deles foram exibidos em Portugal mas também no estrangeiro. São exemplo do sucesso da Invicta Film no estrangeiro Manobras Navais Portuguesas ou Grandes Manobras de Tancos, 1912, e também O Naufrágio do Veronese, documentando o desastre ocorrido em Leça da Palmeira, em 1913.
Conhecendo o sucesso conquistado pela Invicta Film, José Augusto Dias, sendo banqueiro, decide juntar-se a Nunes de Matos, apoiando-o financeiramente sempre que necessário.
Em Março de 1916, após a Alemanha declarar guerra a Portugal, a situação mostra-se desfavorável à produção cinematográfica. Contudo, Nunes de Matos não se deixa desanimar e decide então documentar assuntos exclusivamente portugueses.
Após, em 1917, ter sido assinada a escritura de uma sociedade de quotas, a Invicta Film adquire várias máquinas mais avançadas. Tentaram introduzir um novo processo cinematográfico, baseando na reflexão das imagens isoladamente tentando alcançar o relevo, a terceira dimensão.

O Contributo do Produtor Pallu
Georges Pallu é contratado pela Invicta Film em 1918. Foi Pallu o responsável pela produção da adaptação de Frei Bonifácio, de Júlio Dantas. Teve a sua estreia em 4 de Outubro de 1918, no prestigiado cinema Olympia, na cidade do Porto. Também realizados por Pallu, seguiram-se os filmes A Rosa do Adro, em 1919 também no cinema Olympia, e O Comissário de Polícia, no mesmo cinema, mas em 1920.

Investimentos Produtivos
Em 1919 a Invicta Film cria um acordo com o jornal Diário de Noticias. Este acordo baseia-se na publicação de folhetins e novelas pelo jornal que mais tarde seriam realizados pela empresa de produções cinematográficas. Deste acordo estabelecido entra as duas entidades, apenas resultaram um melodrama Amor Fatal e a tragicomédia Barba Negra.
Outros grandes investimentos de produtora Invicta Film foram, em 1921, a adaptação da obra Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco seguindo-se Mulheres da Beira e Quando o Amor Fala.

Anos de Ouro
Os anos mais produtivos foram 1922 e 1924. Os filmes realizados pela Invicta Film foram O Destino e O Primo Basílio, ambos em 1922 produzidos por Georges Pallu. Em 1923 foram realizados As Tempestades da Vida, de Augusto de Lacerda, e Os Lucros Ilícitos: Gold & Cia, de Pallu. E em 1924 foram realizados Tragédias de Amor, de Maurice Laumann, e Tinoco em Bolandas, de António Pinheiro. O Desfecho da Invicta Film
Apesar dos anos de produtividade da Invicta Film, foram surgindo algumas dificuldades financeiras em 1923. Como tentativa de resolução do problema, tenta-se exportar os filmes realizados para o Brasil e para os Estados Unidos de América. Contudo, as receitas obtidas pelas vendas, não foram suficientes para evitar o despedimento de todos os trabalhadores da Invicta Film, em 1924. Apenas deixa activo o laboratório, mas que em 1928 marca o encerramento definitivo da produtora portuense, Invicta Film.
Apesar do inevitável desfecho da Invicta Film, o início da nova década marca a total mudança do cinema português, começando os anos trinta com o cinema sonoro e a utilização de novas tecnologias na produção cinematográfica. Começaram então, anos de esperança no cinema português.

sexta-feira, outubro 24

Arte Popular: O Galo de Barcelos



Há já muito tempo que a sua fama transpôs as fronteiras portuguesas, quer como símbolo de uma região, de um país, quer como lembrança que muitos visitantes levam consigo. Este símbolo colorido e garrido adquiriu uma personalidade própria, mesmo que as suas origens em concreto se tenham perdido com o passar do tempo.

Associado à criação artística, existem as lendas, ou melhor, a lenda, embora narrada em diversas versões, que está na origem da criação desta peça do artesanato português. O concelho de Barcelos é muito extenso e a olaria predomina em algumas localidades. Respeitante à questão do denominado “Galo de Barcelos”, como figura artística e decorativa, convém não recear identificar o seu berço e também valorizar a gente e a terra que o criou: Galegos Santa Maria. Esta é a terra onde, ainda hoje, os seus artesãos dão vida à tão famosa peça do artesanato português, símbolo de uma região, símbolo de um país.

Convém, no entanto, recordar a lenda: “Na vila de Barcelos (à esquerda) tinha-se cometido um crime, e não havia meio de se descobrir o culpado. Aconteceu passar por aqui um galego que seguia a caminho de Santiago de Compostela, a fim de cumprir uma promessa. Sendo um estranho, logo o apontaram como culpado: prenderam-no e condenaram-no à morte. O homem disse que nada tinha que ver com o caso, jurou, protestou que estava inocente; de nada lhe valeram juras e protestos. A seu pedido, como último desejo de um condenado à forca, levaram-no à presença de um juiz. Este recebeu-o na sala de jantar, onde se preparava para tomar a refeição. Mais uma vez o pobre homem jurou a sua inocência, e garantiu ser tão verdade o que dizia como o galo que estava assado sobre a mesa se levantasse e cantasse. E, de facto, o galo assado ergueu-se da travessa e cantou vibrantemente. Imediatamente “nuestro ermano” foi mandado em paz. Mas voltou, mais tarde, a Barcelos para erigir um monumento votivo em honra da Virgem e de S. Tiago”.

Com efeito, esta figura típica da louça de Barcelos, de fundo escuro, crista vermelha, pintalgada de corações (o mais vulgar), teve o seu nascimento em Galegos Santa Maria, pela mão do Oleiro Domingos Côto, na década de trinta. Primeiramente o galo era feito à mão, mas começou depois a ser fabricado à roda e em série, de todos os tamanhos, em quantidades industriais.

quarta-feira, outubro 22

Pintura: O Naturalista José Malhoa



José Malhoa, de nome inteiro José Vital Branco Malhoa, nasceu nas Caldas da Rainha em 1855, tendo sido pintor, professor e um dos mais importantes pioneiros do naturalismo em Portugal.
Aos 12 anos, Malhoa, ingressou na Academia de Belas Artes, tendo demonstrado tantas aptidões artísticas e dedicação ao longo dos 8 anos de escola, que lhe valeram excelentes classificações e o primeiro prémio todos os anos.
Porém, após os estudos, José Malhoa não progrediu com a sua vida artística devido ao facto de não ter sido escolhido para bolseiro numa academia estrangeira após ter tentado várias vezes. Desta forma parou de pintar e trabalhou algum tempo como caixa numa loja, contudo foi inevitável e Malhoa regressou à sua paixão: a pintura.
As suas primeiras encomendas chegaram ainda antes de 1885, sendo alguns exemplos, um tecto para o Real Conservatório e outro para o Supremo Tribunal da Justiça.
Entretanto, por volta de 1870, as influências naturalistas trazidas do estrangeiro pelo pintor Silva Porto, levaram à decisão de Malhoa começar a pintar ao ar livre. Estas pinturas tinham como principais temas, paisagens, cenas rurais, animais, camponeses, por outras palavras, José Malhoa tinha-se tornado um dos primeiros pintores naturalistas portugueses.


Em 1906, é reconhecido como um dos mais importantes pintores da sua época (fim do século XIX, início do século XX), mas José Malhoa não ficou por aqui, continuando a fazer imensas exposições em Portugal e no estrangeiro.
Malhoa continuou a pintar activamente, as suas obras contam-se como cerca de 2000, até ao dia da sua morte (26 de Outubro de 1933) em Figueiró dos Vinhos, onde detinha uma casa e onde costumava pintar as paisagens da zona.



No próximo Domingo 26 de Outubro, o Museu de José Malhoa (construído em sua honra, após a sua morte), irá realizar um programa especial para assinalar os 75 anos desde a sua morte, por isso, fica já a sugestão a todos os leitores: façam uma ou mais visitas ao museu para poderem provar da riqueza, intensidade, versatilidade e expressividade dos seus quadros.

segunda-feira, outubro 20

Literatura: O Neo-Realismo

O Neo-realismo surgiu como a segunda influente escola literária do século XX, sucedendo ao modernismo do início deste século. A sua época de afirmação na criação literária definiu-se as décadas de 30 e 40, incluindo em Portugal, onde esta corrente conheceu contornos exclusivos.
A escrita neo-realista bebeu da influência da corrente realista e naturalista que dominara o último quartel do século XIX, com autores como Eça de Queirós, assim como foi motivada pelas vitórias do modernismo e das novas concepções políticas e científicas que grandes nomes introduziram no início do século XX. Comummente aceita-se declarar que a crise financeira de 29 promoveu o surgimento desta corrente, concentrada na crítica social e política. Porém, de acordo com a realidade portuguesa, para o rumo do Neo-realismo contribuíram os movimentos democráticos que resistiam à ditadura, pelo que vários autores viram as suas obras censuradas e a sua liberdade criativa ameaçada.
Segundo o próprio nome, as características do Realismo reflectem-se, em grande parte, no Neo-Realismo. A escola naturalista defendia o determinismo social e psicológico dos indivíduos, e esta crença será seguida com uma diferente veemência, ocasionada pelas doutrinas freudianas que assumiram o ser humano como criatura de complexas emoções e ambições, macerada por cicatrizes apreendidas no decorrer de toda a vida. Numa etapa posterior, o interesse pela digressão no intimismo do ser humano causará a corrente existencialista, que já registara passos no século XIX, a propósito de autores importantes como Dostoievsky. Para o registo neo-realista utiliza-se o distanciamento completo do narrador, que se revela conhecedor de todos os factos e, em simultâneo, objectivo e neutro em relação aos mesmos. Em oposição ao antigo realismo surgem novidades, como a rejeição do pessimismo e fatalismo encontrados e sobejamente utilizados pelos realistas; antes se procura então a solução para os problemas, muitas vezes descoberta nas doutrinas marxistas. Os neo-realistas, assim, assumem-se activistas políticos, inconformistas que procuram alterar o curso da sociedade, denunciando-lhe os vícios e os erros. Por outro lado, combatendo a herança passada numa frente diversa, desfruta-se de uma linguagem mais livre, que os modernistas já haviam alcançado. Aliás, há a assinalar como facto constante, em toda a história da literatura, uma progressiva concessão de liberdade linguística, desde a época da epopeia até aos textos da actualidade.
De entre os autores neo-realistas portugueses, destacam-se vultos como Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes (ao alto), Manuel da Fonseca, José Ernesto de Sousa e Fernando Namora. Mais tarde, a transição do neo-realismo para o existencialismo foi protagonizada pelo autor d’A Aparição, Vergílio Ferreira (ao meio). Na seguinte semana, a convergir com a proximidade do primeiro aniversário do museu do Neo-Realismo (acima), que se soleniza hoje, em Vila Franca de Xira, apresentarei uma biografia de Alves Redol, filho do nosso concelho.

domingo, outubro 19

Música: A castiça Hermínia Silva!

Um ser que inicia a sua vida caindo da janela do 1º andar de sua casa (com apenas 8 meses!!!), sobrevive a tal acidente, e que aos 13 anos já cantava ao lado de Alfredo Marceneiro...apenas se poderia tornar num ser de génio elevado, que acabaria por se tornar num mito na voz e nos ouvidos dum país.

Esta é Hermínia Silva.

O meu fado foi sempre de revista. De teatro, afirmou algures na sua carreira. Tal constatação da própria obra não poderia estar mais correcta.

Famosa pela sua interpretação do fado inspirada no humor do teatro revisteiro, Hermínia Silva foi pioneira numa das relações mais consistentes e duradouras da cultura portuguesa, a do fado com a revista.

Vendendo uma quantidade inimaginável de bilhetes no Parque Mayer, arrastando uma multidão de admiradores obcecados pela sua espontaneidade artística; Hermínia Silva evolui no meio teatral, acabando por se tornar segunda figura (logo a seguir a Beatriz Costa) no teatro Variedades, seguindo depois para palcos como o Coliseu, o Monumental e o Apolo.

Mas a pioneira no uso do xaile branco por cima do xaile negro não só lançava cartas na sua amada Lisboa, conquistando todo o país e até o estrangeiro, especialmente países com grandes comunidades portuguesas. Destaca-se a digressão a Espanha, Brasil, E.U.A. e Canadá. Porém a fadista mais castiça de todas recusou muitos contratos no estrangeiro devido...ao seu medo fatal de andar de avião!

No entanto, foi no Solar da Hermínia, em Benavente, que o segundo vértice do fado (a seguir a Marceneiro e antes de Amália) se tornou numa das fadistas mais adoradas do povo, ora pelas suas interpretações sempre cheias de alma, ora pelas gargalhadas que roubava ao público com expressões como Anda Pacheco! ou Isso bem picadinho que é pra voz sobressair!.

Por entre interpretações da "Casa da Mariquinhas", "A Velha Tendinha", "Fado da Sina" que envolviam a alma de cada português; incursões ao cinema em clássicos como "Aldeia da Roupa Branca", "O Homem do Ribatejo" e "Costa do Castelo"; condecorações várias; críticas recheadas de humor e até duetos com José Cid (!!!)...Hermínia conquistou o respeito de todos, a adoração de muitos (inclusivé da sua fa acérrima Amália!) e um sorriso de diversão e orgulho a Portugal.






domingo, outubro 12

Início

Abrimos com esta introdução este blog, um espaço de evolução frequente onde será feita a exposição de conteúdos abrangidos pelo tema do nosso projecto, "Arte em Portugal desde 1900". A missão deste novo espaço centra-se na necessidade e vontade da nossa parte em expor a evolução das diferentes expressões no nosso país ao longo do século que antecedeu este em que vivemos hoje. Por esta mensagem, entende-se que este blog é dirigido a todos, estudantes, amigos, interessados simplesmente... mas que, ao menos, veja na arte um escape, um interesse, um objectivo.

Existe a precisão de constituir este espaço como uma presença assídua no panorama do nosso projecto e uma parte fundamental da sua concretização. Desta forma, resume-se que por aqui daremos a conhecer os vários passos que seguiremos rumo ao nosso projecto final, a ser exibido no mês de Junho. Para constante actualização deste espaço e superior interesse dos visitantes desta página, procederemos da seguinte forma: com o espaçamento regular de um ou dois dias, cada elemento deste grupo escreverá uma nova contribuição para o blog. Todos os domingos, Isac Rolo será responsável pela informação acerca de música, às segundas-feiras caberá a missão a João Fernandes com o assunto literatura, nas quartas-feiras seguir-se-á Cláudia Neto com o subtema pintura, ainda Sara Neves às sextas-feiras com as tradições e cultura popular portuguesa, finalizando com Andreia Freitas todos os sábados, a abordar o subtema do cinema português.

Esperemos agradar pelo assunto que vamos abordar e pela forma como contamos chegar até à comunidade. Este blog será apenas uma das formas de intervenção, mas fulcral na concretização conjunta do projecto, assim como a de trabalho e empenho mais frequentes. Aqui nos despedimos, todo o grupo, com a promessa de regressar em breve com mais conteúdos.