domingo, novembro 30

Música: Mini-biografia do Rei do Fado

Estamos no dia 25 de Fevereiro de 1891. Poderia apenas um dia qualquer. Porém foi neste dia que nasceu uma das maiores lendas do Fado de sempre.

Alfredo Marceneiro foi influenciado pela sua mãe em termos musicais, se bem que o seu pai e o seu avô (que tocava guitarra e cantava fados de improviso) também exerceram a sua influência.

Marceneiro seguia atentamente as cegadas, tomando assim mais contacto com o Fado, e cultivando o seu gosto pela representação.

“É num baile popular que se inicia a cantar o fado, começando logo a criar nome desde aí. Graças às suas capacidades passa a ser solicitado para cantar em festas de caridade, muito usuais na época como forma de solidariedade para com os mais desafortunados. Aos dezassete anos, consegue almejar o seu grande sonho: sair numa cegada.”

Foi na cegada “Luz e Sapiência” que Alfredo granjeia maior glória. Tanta que até ao fim da sua vida conseguia recitar de cor o seu papel nesta cegada. Uma das curiosidades acerca destas cegadas tem que ver com o facto de Marceneiro se…travestir.

Os anos 20 e 30 ricos em Fado de Marceneiro. Esses anos de contributo para o fado granjearam a Marceneiro a seguinte homenagem gravada numa placa:

Tem na garganta um não sei quê de estranho,
Que perturba e nos faz cismar:
É dor? É medo? São visões d'antanho?
Amor? Ciúme? É choro? É gargalhar?

É voz do fado - dizem - e eu convenho
Que ande na sua voz a voz do mar,
Onde Portugal se fez tamanho
E aprendeu a cantar e a soluçar.

O Marceneiro tem aquela atroz
Sonância d'onda infrene que em rochedo
Fareja e morde, impiedosa e algoz.

É voz roufenha que nos mete medo,
Mas que atrai, que seduz... É bem a voz
Do fado rigoroso, a voz do Alfredo.
********

Profissionaliza-se no fado nos anos 40, sendo o Bairro Alto e Alfama os seus principais “reinos”, e até à sua morte e para além desta, Alfredo manteve-se e manter-se-á sempre o rei do Fado e eterno dono de Lisboa.

Créditos de imagens: Família de Alfredo Marceneiro

quinta-feira, novembro 27

Arte Popular: o jogo do pião.

Os jogos tradicionais portugueses são bastante interessantes e de fácil prática. O jogo do pião praticado especialmente pelos rapazes durante a primeira metade do século vinte volta a surgir sobretudo nos pátios da escola.
Este jogo pratica-se da seguinte maneira:

Disposição inicial: pode tratar-se de uma competição de tempo fixado ou de um encontro em que o pião deve tocar nos outros piões com o objectivo de os projectar para fora de um círculo de ante-mão desenhada no chão e manter-se em movimento giratório.
Desenvolvimento: o movimento resulta de um cordel enrolado é volta de um pião. O cordel segura-se com a mão de uma das extremidades, na qual desenrolando-se o faz girar.

Participantes: pode ser jogado sozinho ou com outros jogadores.

Material: pião e cordel.

Peço as minhas inteiras e sinceras desculpas por só hoje colocar o meu artigo no blog. Na anterior sexta-feira (dia vinte e um de Novembro), deparei-me com alguns problemas de saúde de familiares. Apenas hoje tive possibilidade de o colocar.

quarta-feira, novembro 26

Pintura: Cartoon

Na semana passada falei-vos de uma das maiores personalidades da banda desenhada, para demonstrar as várias facetas da pintura. É por isso que esta semana decidi mostrar também um tipo de pintura diferente, neste caso os cartoons. Este tipo de crítica caricaturada é algo a que estamos muito habituados hoje me dia, estas podem ser vistas em jornais, revistas e exposições.
A personalidade que vos apresento nasceu aqui muito perto, em Vila Franca de Xira a 12 de Abril de 1953. Trata-se de António Moreira Antunes.

Breve Biografia:
  • A sua carreira inicia-se em Março de 1974 quando executa um desenho que viria a ser uma alegoria à revolução de Abril.
  • Em Dezembro do mesmo ano insere-se no Expresso após já ter passado por outros jornais como o Diário de Notícias, O Jornal, A Vida Mundial e A Capital.

  • Em 1975, numa edição do Expresso, inicia uma banda desenhada intitulada de Kafarnaum.

  • Em 1983 é lhe atribuído O Grande Prémio no XX Salão Internacional de cartoon em Montreal.

  • Os seus trabalhos passam a ser divulgados no catálogo Views of the World da agência internacional Cartoonists & Writers Syndicate.

  • Nos anos 80 faz várias caricaturas ao governo, nelas está incluída uma ao então primeiro-ministro Mário Soares, e edita o seu primeiro Álbum de Caras e, mais tarde, o Álbum de Caras II.

  • É já nos anos 90, em 1993, que executa o cartoon mais polémico da sua carreira: o Preservativo Papal. No mesmo ano são assinalados os seus 20 de carreira com uma edição especial do Expresso que consiste nos seus 20 melhores trabalhos.





segunda-feira, novembro 24

Literatura: Carta da Infância, por Carlos de Oliveira

Passo, pela data que hoje se percebe e pelas horas que no pulso de tantos se anuncia, a presentear o meu público com um poema neo-realista português que me fascinou assim me debrucei na sua contemplação, ao início ligeira, mas gradualmente adquirindo, bem mais do que compreensão, uma certa dose de afecto. É o seu nome "Carta da Infância", pela mão de Carlos Oliveira (1921-1981).

Amigo Luar:
Estou fechado no quarto escuro
e tenho chorado muito.
Quando choro lá fora
ainda posso ver as lágrimas caírem da palma das
minhas mãos e brincar com elas no orvalho
nas flores pela manhã.
Mas aqui é tudo por demais escuro
e eu nem sequer tenho duas estrelas nos meus olhos.
Lembro-me das noites em que me fazem deitar tão
cedo e te ouço bater, chamar e bater, na fresta
da minha janela.
Pelo muito que te tenho perdido enquanto durmo
vem agora,
no bico dos pés
para que ele te não sintam lá dentro,
brincar comigo aos presos no segredo
quando se abre a porta de ferro e a luz diz:
bons dias, amigo.

Entre alguns pontos interessantes do texto, saliento:
- estrutura circular, entrevista pela palavra inicial que coincide com a palavra com que o poema termina;
- dedicação do poema ao Luar, guardador da nossa infância;
- recordações dos pequenos momentos que procuram ser a essência do bom do passado, como as brincadeiras na rua ou a luz;
- liberdade textual, sem regras métricas ou rimáticas de qualquer tipo, permitindo um aprofundamento da ternura ou paz que o tema parece exigir.

Desde que me confronto de certa forma e espécie com ideias quase revolucionárias nesta cabeça, que me veio a vontade de vos apresentar não só poemas e pequenos textos, mas mesmo partes de romances neo-realistas, no seio do intuito de esclarecer, expondo produto e conteúdo, acerca do movimento que estou a estudar convosco. Assim sendo, dedicarei porções desta semana nas estantes de uma biblioteca a decidir de qual romance escolherei para dele transcrever as páginas iniciais e colocá-las neste espaço. Poderá surgir em alguém a posterior vontade de prosseguir com a leitura, procurando um original integral. Veremos como seguirá este projecto!

Música: O Homem que fez o Fado ser cantado de pé

Antes da mini-biografia de Alfredo Marceneiro com que vos presentearei na próxima semana, dou-vos a conhecer, caros leitores, um dos factos que mais me surpreendeu ao pesquisar sobre esta lenda do Fado.

Sim. Já adivinharam através do título. É o facto de ter sido Alfredo Marceneiro o responsável pelo fadista começar a cantar de pé.

“Uau!” exclamei eu. “Ah, isso é treta.” afirmam convictamente alguns cépticos. Não os censuro. Também eu pensava que o Fado havia sempre sido cantado de pé. Ignorância minha, ou de todos, o facto é que afinal o Fado era cantado sentado…mas queiram saber a história do início.

***

Estávamos no ano de 1921 e os primeiros empresários da produtora de cinema Chiado Terrasse convidam Marceneiro para cantar nos intervalos das exibições cinematográficas, de modo a cativar mais público aos cinemas, que ainda não despertava o interesse das massas.

Estando Alfredo Marceneiro no auge da sua carreira, atrai público aos cinemas. As produtoras lucravam, os fadistas aproximavam-se do grande público (uma vez que, ao que parece, a ideia generalizada era que os fadistas eram “indivíduos de mau porte”…).

Foi numa destas actuações na Chiado Terrasse que Alfredo Marceneiro tem um dos seus repentes de criatividade e levanta-se para cantar Fado

“Todos os fadistas cantavam sentados e os espectadores mais distantes tinham a tendência de se levantarem afim de poderem ver quem estava a actuar. Isto provocava um certo burburinho que prejudicava as actuações e, com a atitude de Alfredo Marceneiro, o Fado ganhou outro respeito. A partir desse dia, os tocadores e os fadistas passaram a ter um lugar de destaque nas salas onde actuavam e o Fado começou a ser cantado em pé.”

***

Ora aí está! Velhos do Restelo, descrentes, ou simplesmente desconhecedores do facto…rendam-se ás evidências. As fontes são fidedignas. Alfredo Marceneiro iniciou o Fado cantado de pé.

sábado, novembro 22

Cinema: O que precisas para realizares um filme!

Hoje, irei contar-vos os segredos da realização de um filme, mas chiu não se conta a ninguém!

Podemos começar pelo guião.

É importante criarmos um guião que seja criativo e cativante para o público. É essencial que as pessoas se identifiquem com o assunto que abordes no filme para que suscite a sua curiosidade, tal como aconteceu com os primeiros documentários portugueses.

Agora como filmar!

No inicio da história do cinema, os cineastas utilizavam o cinematógrafo que foi melhorado pelos irmãos Lumière, utilizado também pelos primeiros realizadores portugueses e requisitado por produtoras portuguesas. Hoje não precisas de procurar um cinematógrafo, podes apenas pegar na tua câmara de filmar, ou algo com o mesmo fim, e filma o que te aparecer à frente dos olhos ou então o que simplesmente achares belo para ser filmado.

Onde armazenar o nosso filme?

Poderíamos utilizar uma bobine, como foi utilizado por muitos realizadores do inicio do século XX e onde ainda estão guardados alguns filmes portugueses. Mas acho que teríamos alguma dificuldade em encontrar esse material e até mesmo reproduzir o seu conteúdo. Hoje podemos recorrer aos DVD’s. Um suporte digital fácil de transportar e com o qual todos sabemos trabalhar.



Precisamos de marcar cada cena filmada!

Ainda hoje é utilizada a claquete. Podes fazê-la tu mesmo ou comprar alguma que encontres. A claquete tem como função identificar cada cena gravada, para que depois a ligação de todas as cenas gravadas seja facilitada. Por isso, pega na tua claquete, dá-lhe o teu toque pessoal e identifica cada cena que gravares.

Para finalizar o meu filme…


Finalizando as gravações, as montagens e depois do teu toque pessoal, instala-te na cadeira de realizador, pega no teu megafone, grita “Acção” e prepara te para apreciares a tua realização depois da contagem decrescente.

quarta-feira, novembro 19

Pintura: Banda Desenhada, uma revolução na pintura

A pintura, principalmente no século XX, não se exprime só através de quadros. Esta também se ilustra em panfletos, propaganda, caricaturas (o grupo dos Humoristas teve um importante papel no inicio do século) e banda desenhada.
É por isso que esta semana decidi apresentar-vos outro tipo de pintor, neste caso, um ilustrador de banda desenhada portuguesa de grande renome: Eduardo Teixeira Coelho.


Biografia:

· Nasce em 1919 na angra do heroísmo e falece em 2005 em Florença.

· O seu primeiro trabalho foi publicado em 1936 no Sempre fixe nº 517.

· Entre 1941 e 1944 faz vários trabalhos de ilustração em revistas e novelas e inicia a sua participação n’O Mosquito.

· De 1946 a 1953 publica alguns desenhos em vários jornais, como é exemplo, O Século e o Diário de Notícias e revistas. Também ilustra livros para a Biblioteca dos Rapazes, Biblioteca das Raparigas, etc.

· Também trabalhou nos bastidores do mundo da representação, entre 1946 e 1949, compondo cenários para alguns filmes e idealizando personagens, figurinos, maquetas e letragens para um cortejo.

· Em 1952 expõe no Salão Nobre, num exposição de histórias de banda desenha e ilustração infantil.

· Já em 1954 parte para o estrangeiro passando primeiro por Espanha e depois por França.

· Em França cria histórias para o Pimpolin, cria Biorn le Viking, Cartouche, les Orgues du diable, entre outras histórias de Banda Desenhada.

· Em 1973 é galardoado no Festival Internacional de BD de Lucca com o prémio de Melhor Desenhador Estrangeiro.

· Da década de 80 até à sua morte é condecorado com outros prémios e homenagens como, o troféu O Mosquito Especial, do Clube Português de Banda Desenhada e o Troféu de Honra no
Festival Internacional da BD na Amadora.

segunda-feira, novembro 17

Literatura: Um escritor influente

Esta semana, conforme não descrito há uma semana, decido apresentar-vos, por biografia, um considerável vulto de entre os mais significativos do movimento neo-realista português, que tenho vindo a expor em sucessivas semanas. Trato de Soeiro Pereira Gomes, nascido no concelho do Baião, no Norte do país, no ano de 1909. A sua obra, vincadamente de denúncia social e de crítica à realidade nacional da época, caracterizada e manchada de profundas desigualdades sociais, parte delas um fruto amargo do regime salazarista, é hoje calculada como um tesouro da literatura de meados do século XX.

Pereira Gomes afirmou-se sempre, e gente há que lhe acha a morte resultado desta convicção, como um comunista activista e confiante nas suas crenças. Filiou-se desde cedo no Partido Comunista. Antes, porém, importa referir uma das naturezas do seu conhecimento tão exacto do Portugal de então: cedo partiu para Espinho, onde viveu a sua infância; estudou em Coimbra, alcançando maior grau académico do que o seu amigo Alves Redol; trabalhou mais de um ano numa colónia, Angola, e regressou à metrópole para exercer numa unidade fabril de Alhandra, aqui tão cerca. Pela constante evocação dos ideais comunistas como solução segura para a situação do país, considera-se o seu produto literário como "realismo socialista".

Os Esteiros, publicada no ano de 1941, mostra-se como a sua obra-prima, vindo a assumir invulgar impacto no pensamento nacional. Esta obra ímpar aborda injustiças e miséria social, através do retrato fiel de um grupo de crianças que abandonam a escola precocemente para se empregarem numa fábrica de tijolos. Pelo seu tema se compreende a dedicatória descrita: "aos filhos dos homens que nunca foram meninos". Esta mensagem que antecede as páginas do livro expressa uma vaga ideia de esperança envolvida com descrença, desânimo e desencantamento. A sua primeira edição contou com ilustrações do também comunista Álvaro Cunhal, talentoso ilustrador.

Viveu os últimos quatro anos da sua vida na clandestinidade: efeitos graves das perseguições que o regime impôs em sua busca pelo carácter revolucionário da sua obra. Doente com cancro do pulmão, Soeiro Pereira Gomes nunca pôde receber assistência médica por via da clandestinidade em que habitava, vindo a morrer em 1949, aos 40 anos de idade. Está hoje sepultado em Espinho, onde viveu a sua infância.

Música: Sobre Alfredo Marceneiro



Alfredo Marceneiro é o fadista masculino português mais acarinhado de sempre. Idolatrado pelo povo, Marceneiro conquistou o seu público com os seus famosos requebres na voz, que davam outra vida á música.
No "Livro de Oiro" do fadista constam inúmeras frases acerca do homem que conquistou a sua Lisboa, e todo o Portugal com a sua alma de fadista.
Melhores do que eu para falar de Marceneiro, são os seus companheiros de vida e eternos fãs.
São as seguintes, algumas frases sobre Alfredo Marceneiro.


"Se eu não fosse Hermínia Silva gostava de ser Alfredo Marceneiro."
HERMÍNIA SILVA


"O Alfredo é, para mim, um dos “grandes” do Fado. Tão sincero na vida como na arte. Por tudo, vai para ele a mais sincera simpatia e a maior admiração."
LUCÍLIA DO CARMO


"Alfredo Duarte junta à sua qualidade de ser um excepcional interprete do Fado, atributos de ser um perfeito homem de bem."
VALENTIM DE CARVALHO

"Porque sou “Alfacinha da gema” porque amo o Fado e todas as coisas da minha terra, aqui vai a minha sincera homenagem ao Alfredo Marceneiro, o maior fadista da minha geração, o maior e melhor representante da minha querida Lisboa."
RAUL SOLNADO

"A Severa e o Alfredo Marceneiro, são o fado deste país."
MÁRIO DE ARAUJO


"O Alfredo Marceneiro é o próprio Fado com alma e coração."
LUIZ PIÇARRA

"O único fadista!"
JOSÉ RÉGIO

"Guardo entre as profundas emoções da minha vida o som pessoalíssimo da voz do Alfredo Marceneiro. Ele e o Fado são um e a mesma pessoa."
JOÃO VILLARET

"Mais que um fadista, Alfredo marceneiro é a carne e o sangue, o coração e a alma do Fado. O próprio Fado. Aquela voz estranha, semi-rouca, cava, -que não é dado a todos sentir nem compreender... dá-nos todas as gamas de sensações imagináveis, traduz todos os estados de alma. Acaricia e arranha. Dulcifica e amarga. Fere e cura. (...) É tempestade a rugir e brisa a refrescar. Epopeia de vencido e amargura de triunfador. Por isso, o Alfredo -é grande..."
FRANCISCO RADAMANTO


"Depois de ouvir o Alfredo Marceneiro cantar até me sinto mais fadista."
FERNANDO FARINHA

"O Fado tem tido muitas mulheres, algumas, mesmo, heroínas da canção dolente e bonita. Homens - só um: Alfredo Marceneiro. Ligou o passado ao presente, e com a sua alma errante, luminosa e ingénua, colocou o Fado num plano de “Auto do Povo”, que ficará na história do nosso tempo."
NORBERTO DE ARAÚJO

"O Alfredo Marceneiro a cantar, uma guitarra a gemer, e temos o Fado castiço e puro. A eterna canção da nossa terra."
EUGÉNIO SALVADOR


"O Alfredo Marceneiro faz-me lembrar os frascos de essência rara! Que pequeno homem!... Que grande alma!..."
Dr.JOSÉ DUQUE

"Alfredo tu és o fado!..."
AMÁLIA RODRIGUES

quarta-feira, novembro 12

Pintura: O Surrealismo por cá

O Surrealismo em Portugal protagonizou uma nova ruptura estética, durante à Segunda Guerra Mundial, que se opôs fortemente ao facto de o modernismo se ir tornando a “arte oficial” do Estado Novo. Foi então nos anos 40 que o Surrealismo, aqui no nosso país, se revelou em torno de artistas como, os reconhecidos, António Pedro e António Dacosta.

António Pedro:








  • Nasceu a 1909 em Cabo Verde e morre no Minho em 1966.
  • Frequentou a faculdade de Letras e Direito.
  • Em 1925 expôs pela primeira vez desenho e caricatura com o pintor José Vasco.
  • Em 1932 fundou a primeira galeria de arte moderna em Lisboa, a UP.

  • Estudou História da Arte em 1933, em Paris.

  • Assinou, em 1935, juntamente com Duchamp, Calder, Kadinsky, Picabia, Delaunay, Arp, Moholy-Nagy, Miró e Ben Nicholson, o “Manifesto do Dimensionismo”.

  • Em Novembro de 1940, participa numa exposição no Chiado, com António Dacosta e Pamela Boden, que marcou a acção surrealista em Portugal.

  • Em 1949, fez parte da I Exposição Surrealista em Lisboa onde dirigiu dois grupos de teatro.

  • Até ao fim da sua vida dedicou-se também à escultura surrealista.

António Dacosta:"Não se interrompe o que se é, não se deixa de ser quem se é, não se recomeça, é-se."











  • Nasceu na Angra do Heroísmo em 1914 e morreu em Paris a 1990.
  • Em 1935 deslocou-se para Lisboa onde ingressou na Escola Superior Artes.

  • Em 1940 participou na, já referida, exposição com António Pedro e Pamela Bonden.

  • Em 1947 foi viver para Paris.

  • Em 1949 enviou algumas das suas obras para a I Exposição Surrealista em Lisboa.

  • Após esta exposição abandonou a pintura, devido a parte das suas obras terem sido destruídas num incêndio, envergando pela literatura, em especial, pelas críticas de arte.

  • Em 1975 volta à pintura.

segunda-feira, novembro 10

Literatura: Fernando Namora reflecte...

Assim como prometido desde a anterior semana, deixo convosco palavras do poeta e ensaísta que vos apresentei, quase solenemente pela extensão do recado que lhe satisfiz, e o qual me têm vindo a temer como demasiado longo, de seu nome Fernando Namora. O tema desta curta reflexão é o amor, e como ele se pode definir quando olhando as criações que advêm da sua manifestação nos homens. Aqui o deixo para vossa leitura:
"O verdadeiro gesto de amor

Aquilo que de verdadeiramente significativo podemos dar a alguém é o que nunca demos a outra pessoa, porque nasceu e se inventou por obra do afecto. O gesto mais amoroso deixa de o ser se, mesmo bem sentido, representa a repetição de incontáveis gestos anteriores numa situação semelhante. O amor é a invenção de tudo, uma originalidade inesgotável. Fundamentalmente, uma inocência."

Bem acautelei que era curto, mas assim até corre ao encontro do que me foi pedido para esboçar esta semana, talvez em compensação ao entusiasmo desmedido e criticado da semana que passou ontem. Aproveito o texto, respeitando-o conforme desejo, para o analisar de acordo com este peso com que vos tenho sacrificado desde o começo deste texto... Deus! O amor, como o meu gosto por estes temas que também como amor deve ser classificado, é criador de originalidade inesgotável, e faz-me fazer aquilo que os outros não se lembrariam de fazer se ocupassem a minha cadeira, que é escrever, escrever, na verdade sem interessar muito quantos leitores me hão-de apoiar nestes textos cuja extensão se assemelha aos caminhos de ferro que teriam de ser empregues para unir a Terra e a Lua. Ora, poucos haveriam de usufruir desse caminho de ferro, e de igual forma não sei quanta população satisfaço ou informo convenientemente com estas mensagens que inicio sem querer terminá-las.

No medo incómodo de me tornar maçador e ser vitimado com novas críticas, ainda que simpáticas se algumas o podem ser, e podem, arquivo estas palavras, que é como quem afirma que as acaba aqui com a promessa de voltar a elas assim encontre necessidade ou proveito. Como tradição, impeço-me de sair sem antes dizer o que escreverei na próxima semana: hoje não digo! Esqueceu-me de me chegar a vontade! É maldade minha... Ora, comigo ninguém se aborrece. Prometo apenas que para a próxima semana, nessa sim, escreverei algo curto!

Cumprimentos!

domingo, novembro 9

Música: Fado revisteiro, contra a americanização da música!

Meus caros, há duas semanas havia considerado o facto do jazz não ter uma expressão significativa em Portugal...

Ora então que descobri na passada semana que não foi (apenas!) o isolamento típico de Portugal em relação ás tendências europeias e americanas que causou tal défice de música americana em Portugal na primeira metade do século.

Tal facto deve-se à luta levada a cabo pela própria massa artística da época contra os ritmos que, após a Grande Guerra, invadiram o mundo.

O fado, em especial o de revista, esmagava assim ritmos como o jazz, os blues, o charleston e o fox-trot, impedindo-os de ganhar expressão. A extravagante música da América era espezinhada pelo cantar do povo português (veja-se a figura ao lado...)!

Uma das protagonistas dessa "marcha" pelo manter do fado foi a actriz Adelina Fernandes, em revistas como "O Burro em Pé" (ver cartaz abaixo) e "Fado Corrido".

A segunda revista mencionada expressa, de um modo óbvio, este espírito descrito. Vejamos então os versos de um dos temas dessa revista, e que algum sentido de defesa do que é nacional se apodere de nós, ao lê-los:


Vinde todas p'ró meu lado

Combater a rev'lução

Cordas que gemeis o fado,

Cordas do meu coração.
Não deixeis que o jazz-band,

Essa máquina infernal,

Vença e guitarra em que se expande

Ai!, todo o amor de Portugal!


sábado, novembro 8

Cinema: Um, Dois, Três... Acção!


A sua história

O Costa do Castelo é um filme português realizado por Arthur Duarte, em 1943. Caracteriza-se pela presença de actores como António Silva, Milú e Hermínia Silva. O tema abordado neste filme está também um pouco retratado noutros filmes do realizador como por exemplo no filme Leão da Estrela. O Costa do Castelo fala de amor. De reencontros, de paixões aparentemente perdidas mas que vivem mais perto do que imaginado. É um filme que ainda hoje transmite nostalgia e que nas personagens vemos um pouco de nós.

O seu realizador

Arthur Duarte, nascido a 17 de Outubro de 1895 e falecido a 22 de Agosto de 1982, teve o seu maior êxito com filmes como O Costa do Castelo. Começou como actor, mas o seu gosto pela criação e realização de filmes aproximou da carreira de cineasta. Foram os seus filmes cómicos, que deram à sua carreira força e prestigio. Entre eles, os filmes de renome como o Leão da Estrela, A Menina da Rádio e O Noivo das Caldas, conhecidos pelo público.


A sua protagonista


A protagonista deste filme é Milú (seu verdadeiro nome Maria de Lurdes de Almeida Lemos), que interpretava o papel de Luisinha, uma rapariga pobre que se viria a casa com um rapaz de boas famílias. Neste filme, Milú transparece a sua incomparável beleza, notório em todos os filmes privilegiados pela sua presença, como também o encanto da sua voz na canção “A Minha Casinha”. Sim, esta canção não é um original do conhecido grupo Xutos e Pontapés. A sua versão muito mais roqueira que hoje conhecemos é uma homenagem, feita pelo grupo musical à grande vedeta do cinema português. Milú nasceu a 24 de Abril de 1926 e faleceu a 5 de Novembro de 2008. Mas o seu talento, tanto para a arte da representação como musical, irá permanecer para sempre nas nossas memórias e eternamente gravado nos filmes marcados pela sua presença em cena.

sexta-feira, novembro 7

Arte Popular: Marchas Populares


Lisboa na noite de Santo António, noite de 12 para 13 de Junho, vem para a rua para o desfile das Marchas Populares dos bairros de Lisboa. Tradicionalmente, este desfile dá-se na Avenida da Liberdade, entre o Marquês de Pombal e os Restauradores.Tudo começou em 1932 por iniciativa de Leitão de Barros, director do “Notícias Ilustrado”, com o apoio de Norberto de Araújo e do “Diário de Lisboa”, promoveram então as primeiras marchas.
Concorreram de inicio 3 bairros (Alto do Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique) e ainda deram adesão a outras tantas (Alcântara, Alfama e Madragoa). Foi muito, para quase uma improvisação. Nesse ano, na marcha de Alcântara, figurou uma jovem humilde, a cantar o fado: AMÁLIA RODRIGUES. Hoje em dia as marchas que desfilam são: Bairro da Ajuda; Alcântara; Alfama; Alto do Pina; Bairro Alto; Benfica; Bica; Campo de Ourique; Campolide; Carnide; Castelo; Graça; Madragoa; Marvila; Mouraria; Olivais; Penha de França; São Vicente.

quarta-feira, novembro 5

Pintura: Expressão no feminino - Sarah Afonso



“Não está ainda explicado o que levou uma mulher como Sarah Afonso, a isolar-se voluntariamente do mundo da Arte para o qual nasceu e exerceu de uma forma talentosa, o desenho e a pintura. Sarah Affonso revela-se como que isolada do presente histórico do seu tempo, quando interpretada na rebeldia dos temas e personagens que escolhe para a sua pintura, genuína, de formas cromáticas generosas e bem iluminadas.”

Apresento-vos Sarah Afonso, uma das mais consagradas pintoras portuguesas do século XX, porém pouco conhecida pelo público em geral.


Sarah Afonso nasceu a 1899 em Lisboa, morrendo nos anos 80 na mesma cidade.
Discípula de Columbano, aprendeu técnicas relacionadas com o pós-romantismo, porém as suas obras plásticas tinham uma clara inclinação para o Modernismo, movimento que viveu no início do século XX em Portugal.




Sarah Afonso foi acima de tudo uma mulher de convicções e talento num mundo de homens em que se baseou o mundo artístico até recentemente. Foi a primeira mulher a frequentar o café “A Brasileira” no Chiado, expôs no Primeiro Salão de Artistas Independentes, realizado em 1930 e fez uma exposição individual em 1939. Já nos anos 40 participou na Exposição do Mundo Português e recebeu o Prémio Amadeu Souza-Cardoso.

Com já 35 anos casa com o reconhecido pintor Almada Negreiros, mas felizmente a sua dedicação à família não a impediu de continuar a pintar e de nos deixar uma importante herança artística.




Aqui fica uma sugestão: Algumas das pinturas de Sarah Afonso encontram-se representadas no Museu do Chiado e no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, por isso aproveitem e dêem uma espreitadela!

segunda-feira, novembro 3

Literatura: "Pergunta", por Fernando Namora

Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar
e levou o caminho das conchas em mar
e dos olhos em rio
— quem vem de longe chorar por mim?

Quem sabe que eu findo de dureza
e condensa ternura em suas mãos
para a derramar em afagos
por mim?

Quem ouviu a angústia do meu brado,
sirene de um navio a vadiar no largo,
e me traz seus beijos e sua cor,
perdendo-se na bruma das madrugadas
por mim?

Quem soube das asperezas da viagem
e pediu o pão negado
e o suor ao corpo torturado,
por mim? por mim?

Quem gerou o mundo e lhe deu seu nome
e seu tamanho — imenso, imenso,
e em mim cabe?

Fernando Namora (1919-1989) foi um poeta português, assim como escritor, autor de romances e ensaios, e ainda médico de profissão. O seu estilo lavrou-se de tendências de diferentes conceitos de literatura. Em geral, é apontado como um incontornável nome do neo-realismo português - porém, como ilustra este poema que aqui apresento, é possível salientar uma expressividade de sensações que se tornou comum pela escrita existencialista, que viria na cronologia a suceder as marcas neo-realistas.

Este poema do poeta de Condeixa-a-Nova (vila cerca de Coimbra) recebeu o título adequado aos aspectos que quero sublinhar nele. O existencialismo, aqui nos seus primeiros passos em Portugal, decorre de uma busca incessante do artista pelas suas origens, pela procura pela filosofia, pelo sentido da existência. Este poema facilmente serviria como manifesto do existencialismo: nele se expõe a dúvida do ser humano; vejamos atentamento o conteúdo do poema, para depois passarmos à forma, deveria ser pela ordem inversa, porém não causa danos e será pertinente.

O sujeito desconhece, e isso o preocupa mais do que o resto, quem tomará na vida o cuidado da dele: quem se importará do seu mal sem que a esse outro alguém lhe surja um mal que lhe abra a vista e tempere o coração com a caridade. Em linhas gerais, simplesmente, ele resume que existem dois pontos de vista de concluir a solidão de todos os sujeitos no mundo: em primeiro lugar a necessidade de sermos por nós próprios, tudo o que precisamos sermos os nossos concessores; em segundo lugar, essa precisão advém da já solidão em que vivemos, escondendo as mágoas e o confronto com as adversidades, que, enquanto estas nos moldam, tentamos omitir, criando entre nós e os outros uma barreira mais e mais espessa, tornando-nos impenetráveis. Pela nossa natureza, iludimos os outros, mesmo quando nos conhecemos. Pois, em geral, nem nós nos conhecemos.

Quanto à forma do poema, nota-se algo que eu já referi em mensagens passadas: uma libertação em relação às normas rígidas que em diferentes séculos forçou os poetas a cumprirem regras rimáticas e métricas. Na verdade, percebe-se a herança e o contributo do romantismo, no século XIX, que introduziu esta liberdade, e mais, pois não conto ainda com o fluir mais despreocupado do discurso, uma linguagem mais acessível. Aproveito a condução deste texto para justificar a gradual concessão de liberdade linguística que marca a História da literatura: no passado, a literatura era dirigida a elites, formadas e donas de um vocabulário rico, e com os tempos e a alfabetização crescente, precisa-se que o conteúdo seja legível e compreensível ao público, caso contrário este optará por outro autor mais contido. Afinal, é sonho dos artistas viverem da sua arte, e na literatura isso resume-se à venda de exemplares. Retomando e finalizando, note-se o início das diferentes estrofes com a introdução da pergunta, sempre igual e fundamental: "quem", pois é essa a questão do poema.

Na semana seguinte darei a conhecer um outro texto de Fernando Namora, concretamente uma reflexão acerca das alterações a que o amor submete as pessoas e até em que poderão conhecer o segredo para o presente perfeito, material ou imaterial.

domingo, novembro 2

Música: 15 factos que precisa de saber sobre a Canção de Coimbra

*Tem Origem no século XIX, sendo o expoente deste século Augusto Hilário(ao lado).

*Originalmente, o Canto de Coimbra era operístico.

*Especialmente no século XX, o modo de cantar a música da universidade passou a ser "lamechas, doentio, piegas, que dominava o ambiente musical académico" de início de século.

*O fado de Coimbra reflecte, por um lado,o saudosismo tipicamente português, a ternura dos amores de estudante, por outro o vigor da juventude, o "idealismo das atitudes", as esperanças de um amor possível.

*Na década de 1910, António Menano começa um cruzamento entre o melancólico Fado de Coimbra e o ritmo alegre das canções e fados de Lisboa.

*Edmundo Bettencourt (abaixo) também tem um papel considerável no "arejar" da Canção coimbrã, fundindo o estilo inconfundível dos académicos de Coimbra, com algumas características da música popular de outras regiões do país, tornando o fado mais rico.

*Faz parte de quase todas as manifestações de carácter estudantil, tendo como principal exemplo a Queima das Fitas.

*O fado de Coimbra ultrapassou as fronteiras da cidade, instalando-se também no Porto e em Braga.

*Exclusivamente cantado e tocado por homens.

*As calças e a batina preta, cobertas por capa de fazenda de lã preta são traje ilustrativo da canção coimbrã.

*É cantado à noite, em sítios escuros. Porém o locais mais típicos para as interpretações são o Mosteiro de Santa Cruz e a Sé Velha.

*As serenatas, interpretadas à janela das raparigas que os rapazes pretendem namorar, são outros dos tradicionalismos das tunas de Coimbra.

*"As cordas são afinadas um tom abaixo, e a técnica de execução é diferente por forma a projectar o som do instrumento nos espaços exteriores, que são o palco privilegiado deste Fado. Também a guitarra clássica se deve afinar um tom abaixo. Esta afinação pretende transmitir à música uma sonoridade mais soturna, relativamente ao Fado de Lisboa."

*Zeca Afonso e o pai de Carlos Paredes, Artur Paredes, iniciaram-se nas tunas coimbrãs.

*"Fado Hilário" é um dos clássicos de Coimbra, entre outros. Curiosamente, o tema mais conhecido sobre Coimbra não é um Fado de Coimbra, e dá pelo nome de "Coimbra é uma lição".

Abaixo uma interpretação da "Balada da Despedida do VI Ano Médico"