terça-feira, maio 26

Música: Composições do “Bem Bom “ e do melhor

Há compositores e produtores que, mesmo não sendo apreciados por todos, ou conotados com a música comercial das lendárias Doce, dos efémeros Gemini, ou do dinossauro José Cid (conotação essa que não necessariamente verdadeira, que ele criou mais que músicas orelhudas), deixam uma marca importantíssima no panorama nacional português. E este facto leva-me a uma curtíssima reflexão, antes de dar por iniciado o artigo. De facto, por detrás das vozes, há muito mais. Os artistas devem ser admirados claro., as vozes é que fazem a canção reconhecível aos ouvidos de todos. Mas e quem cria a melodia? Quem dá rumo à letra? Deve ser esquecido? Afinal de contas são estas pessoas que fazem nascer o esqueleto da canção. As cordas vocais dos mais ou menos bem sucedidos intérpretes apenas a complementam, e isto é demasiado importante na música pop, que se importa mais com o refrão inesquecível por horas, do que com o poder da voz do cantor, ou a mensagem subliminar da música.

Não sei se me faço entender. Mas a música pop vive mais da estrutura base da canção, que da sua interpretação final. Mais que todos os géneros, é um em que os compositores e produtores devem ser valorizados.
Tozé Brito pertence a este grupo, estando por detrás de uma grande quantidade de sucessos lusitanos, especialmente pop. Porém, apesar da inclinação para a música célere ou para a balada simples, romântica e emotiva, Tozé Brito foi dos compositores mais ecléticos que Portugal teve, colocando um pezinho no Fado, na Música Folk, e nas tentativas de Jazz feitas por menos de meia dúzia de artistas.
A carreira de compositor de Tozé Brito inicia-se em 1968, nos Pop Five, com a música “You’ll see”. E desde aí não deixou de compor, tendo enormíssimas influências do pop estrangeiro, mesmo ao compor em português, para portugueses. Tozé confessa, no entanto, que foi com o mestre da letra de intervenção, Ary dos Santos, que viveu as experiências mais gratificantes da sua vida, enquanto compositor.
A certa altura começou a compor para cantores da moda, como Tony de Matos e Franciso José, e mais tarde para as Doce, os Gemini (que ele integrava), Paulo de Carvalho, Adelaide Ferreira, Carlos do Carmo, José Cid, Simone de Oliveira e Ana Moura. Lança, enquanto administrador da Mar (discográfica em parceria com a EMI), lança nomes como Lúcia Moniz, Francisco Mendes e D’Arrasar.
Abaixo ficam algumas das composições que beneficiaram do dedo mágico de Tozé Brito:
José Cid – 20 anos

Doce – Amanhã de manhã

Adelaide Ferreira – Papel principal

Simone de Oliveira – À tua espera

Gemini – Pensando em ti

Vítor Espadinha – Recordar é viver

Para terminar, algumas citações do compositor que mais se pronuncia contra o download ilegal.

"Nunca senti que tivesse grande vocação para cantor. Como músico ainda me diverti um bom bocado."
Não é o único a achá-lo. A percentagem mais significativa de conhecedores do trabalho de Tozé Brito prefere-o como compositor e produtor.

"Eu nunca fiz censura estética. Acho que este é o termo exacto. Nunca tive a preocupação de pensar não vou escrever coisas para esta pessoa porque aquilo que ela faz não me agrada. Não. Vi sempre as coisas ao contrário, isto é, não abdico duma determinada linha, que é a minha, e se a pessoa conseguir adaptar-se à minha canção, muito bem. Ou seja: escrevi algumas canções para pessoas com que não me identifico de todo, em termos estéticos, em termos musicais. No entanto, aceitei esses pedidos, sempre. (...) Foi o que se passou com o Clemente, com o Dino Meira... Eram pessoas que, desde que me pedissem uma canção, eu era incapaz de os tratar de uma forma diferente da maneira como tratei os outros."
Outra das características que o levou tão longe é a fidelidade a si próprio, e ao seu género, ao qual os intérpretes tinham de se adaptar.

"Há dias em que me apetece pegar na guitarra e compor. Ou pegar numa folha de papel e escrever uma letra, impulsionado sabe-se lá porquê: Às vezes a ver um filme, uma simples frase de um actor, é o suficiente para me fazer levantar como uma mola. E quantas vezes aconteceu..."
Sem fazer plágio, Tozé Brito sempre se inspirou nas frases de outrem, para criar histórias, para compor canções, algo que acontecia de forma espontânea, e quase nunca preparada. São todos estes factores que, em conjunto, que tornam o trabalho de Tozé Brito “bem bom” de se escutar.

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