sábado, abril 11

Cinema: José Leitão de Barros - A Alma Inovadora

Hoje e no meu próximo artigo irei apresentar-vos duas biografias de dois cineastas portugueses.

Leitão de Barros nasceu em Lisboa a 22 de Outubro de 1896. Na mesma cidade morreu a 29 de Junho, 71 anos depois, em 1967. O seu trabalho distingue-se pelo sentido estético das suas obras e por ter realizado a primeira docuficção e a segunda etnoficção da história cinematográfica – “Maria do Mar”, 1930.

Até começar a sua carreira de cineasta frequentou diversas faculdades de Lisboa, leccionou matemática e desenho no Liceu Passos Manuel em Lisboa, frequentou o curso de Arquitectura e em 1916 enveredou pelo jornalismo escrevendo artigos, reportagens, entrevistas, crónicas e até criticas de arte.

As suas primeiras obras foram os filmes “Malmequer” e “Mal de Espanha” seguidos de uma reportagem “Sidónio Pais – Proclamação do Presidente da República”.

Com “Malmequer”, José Leitão de Barros revela o seu cuidado com os cenários e figurinos, característica dos seus filmes históricos, apresentando um melodrama do século XVIII. Nas suas primeiras obras Leitão de Barros aplicava a técnica de tintagem, que consistia na coloração da película com o intuito de salientar sentimentos e para a distinção do dia/noite ou exterior/interior.
Durante dez anos, desligado das realizações cinematográficas, dedicou-se ao teatro, como dramaturgo, escrevendo peças, e como cenógrafo, ajudando na concretização de diversas peças. Dedicou-se também à pintura expondo as suas obras em galerias portuguesas, espanholas e brasileiras. Assim recebeu diversos galardões.

Em 1926, com “Festas de Curia”, é um sinal do regresso de José Leitão de Barros ao cinema. Através desta película é evidenciado o seu interesse pelas tradições da cultura popular, o que estará presente em muitas outras obras.

Um ano mais tarde, em 1927, realiza um documentário que se destacaria de todas as suas obras até então realizadas, “Nazaré, Praia de Pescadores”. Um documentário onde é focado a relação entre o Homem e a Natureza.

Com o inicio da década de 30 vem não só novos projectos mas também consagrações. “Lisboa, Crónica Anedótica” e “Maria do Mar” ligam-se entre si através da preocupação estética de Leitão de Barros apesar da diferença do seu conteúdo. “Lisboa, Crónica Anedótica” relata a vida quotidiana num estilo simultaneamente poético e humorístico algo inovador no cinema português.

“Maria do Mar”, em colaboração com António Lopes Ribeiro, é considerada uma relíquia do cinema mudo português, estando representado em cinematecas de diversos países como Londres, Nova Iorque, Tóquio e Moscovo. Com o recurso aos grandes planos, exibição do desenho sensual dos corpos contrastando com a força dos elementos e a excelente combinação dos actores, de figurantes e de gentes da Nazaré permitem encontrar no filme o modernismo que até hoje apresenta.

Querendo dar o passo seguinte da inovação no cinema português, viu-se impossibilitado de avançar devido há falta de estúdios portugueses equipados para a realização de filmes sonoros. Ainda assim, com as dificuldades, realizou “Severa” adaptada da peça de Júlio Dantas. Para a realização desta película, Leitão de Barros divide-se entre Portugal, onde filmou as cenas exteriores (sem som), e França, para as cenas interiores e onde se sonorizou o filme. Esta película apresenta elementos susceptíveis ao agrado do público: as diferenças sociais, a tragédia da protagonista e o Fado que conquistava o seu lugar nas rádios portuguesas.

“Severa” teve grande sucesso comercial evidenciando assim a necessidade da construção de estúdios adaptados para os novos filmes. Assim, em 1932 José Leitão de Barros foi um dos principais entusiastas na construção da produtora português da nova geração, a Tobis Portuguesa.

Ainda na década de 30 as atenções de José Leitão de Barros dividem-se entre o cinema e a coordenação de cortejos e marchas populares, festas organizadas por órgãos do governo, assimilando-se o seu nome ao Estado Novo.

Em 1937, com algumas cenas do filme “Maria Papoila” e ainda com documentários, “Legião Portuguesa” e “Mocidade Portuguesa”, ligam ainda mais o seu nome ao regime.

Patrocinado pelo Secretariado de Propaganda Nacional e com o apoio e elogios de António Ribeiro, a obra “Ala-Arriba” foi o primeiro filme português a ganhar um prémio estrangeiro, sendo ele a Taça Biennali da Bienal de Veneza em 1942.

Sendo na altura o Brasil importante mercado para os filmes portugueses, e com apoios tanto de Portugal como do Brasil, José Leitão de Barros vai para o Rio de Janeiro com Amália Rodrigues para realizar “Vendaval Maravilho”, em 1949, com a ambição do mesmo sucesso dos filmes “Capas Negas” e “Fado - História de um Cantadeira”. Contudo o filme não teve a sorte procurada. Uma das principais críticas é direccionada para o facto de Amália pouco cantar ao longo do filme. “Vendaval Maravilhoso” teve tão elevados custos de produção que nem os ganhos nas bilheteiras iriam recuperar todos os gastos.

Após este fracasso de produção entre Portugal e Brasil, as cooperações entre os dois países tornaram-se extintas e José Leitão de Barros dedica-se então a documentários nas próximas décadas, 50 e 60.

Nos últimos anos da vida do cineasta, Leitão de Barros dedicou-se ao jornalismo, tendo também escrito um livro compilando as suas crónicas intituladas “Corvos”.

Filmologia:
· Mal de Espanha – 1918
· O Homem dos Olhos Tortos – 1918 (inacabado)
· Malmequer -1918
· Sidónio Pais – Proclamação do Presidente da República – 1918 (obra não sobreviveu)
· Nazaré, Praia de Pescadores – 1929 (perdeu-se a 2º parte)
· Festas da Cúria – 1927
· Lisboa, Crónica Anedótica – 1930
· Maria do Mar – 1930
· A Severa – 1931
· As Pupilas do Senhor Reitor – 1935
· Bocage – 1936
· Maria Papoila – 1937
· Legião Portuguesa – 1937
· Mocidade Portuguesa – 1937
· Varanda dos Rouxinóis – 1939
· A Pesca do Atum – 1939
· Ala-Arriba – 1942
· A Povoa de Varzim – 1942
· Inês de Castro – 1944
· Camões – 1946
· Vendaval Maravilhoso – 1949
· Comemorações Henriquinas – 1960
· A Ponte da Arrábida Sobre o Rio Douro – 1961
· Escolas de Portugal – 1962
· A Ponte Salazar Sobre o Rio Tejo – 1966

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