quinta-feira, maio 14

Música: Chamem a polícia!

Ainda dizem a não polícias por aí, pela rua. Podem não estar por aí, nos bairros melhores ou piores, mas andam pelas ruas da história do Rock português e nos ouvidos dos portugueses que os ouviram e ouvem. Das bandas que vos vou falar hoje, uma é um caso de sucesso que durou dos anos 80 até hoje; outra teve algum sucesso, desapareceu por uns tempos, e voltou há pouco tempo; outra é totalmente desconhecida de 99,9% da população portuguesa, e foi mais efémera que um bom disco da Ruth Marlene. Falo-vos, respectivamente, dos GNR, dos Trabalhadores do Comércio, e dos PSP. A ligação da primeira e da última à polícia é óbvia (a sigla senhores, a sigla). Já os Trabalhadores do Comércio foram inseridos neste artigo sobre as "forças policiais" dos anos 80, uma vez que o seu êxito maior intitula-se "Chamem a pulíssia", de erros crassos no título, mas propositados, demonstrando o humor nortenho do grupo.

Atendendo ao apelo dos Trabalhadores do Comércio, provavelmente tradicional, que nos anos 80 não havia centros comerciais, trouxe a polícia à baila. E comecemos pela PSP. Aliás, pelos PSP, o Projecto Som Pop, grupo que, quando mencionado em termos musicais, é tido como uma alcunha aos GNR, como algo do género, "Antes havia um grupo chamado PSP!", "Ahahah, tens tanta piada. Toda a gente sabe que esses são os GNR, e tu estás apenas a mangar connosco". Pois enganam-se! Houve mesmo um grupo com este nome.
O fundador é, pois claro, um ex-membro da formação inicial dos GNR. Formaram-se no Porto, e eram formados por Vítor Rua (o ex baixista, guitarrista e vocalista dos GNR), Dom Lino que tinha a seus cuidados a bateria, e Luís Carlos, o homem que tratava de adicionar sintetizadores e ritmos computorizados, tão célebres na época. Gravaram o seu único disco para a editora Ama Romanta, uma entidade independente que surgiu nos anos 80, da qual fazia parte João Peste dos Pop dell'Arte. O disco intitula-se "Pipocas" , editado pela Ama Romanta com independência em relação ao totalitarismo que controla o mercado musical, com as suas inevitáveis extensões nos mass-media.


Do alinhamento do disco fazem parte temas como "Pico Fininho", "Oh, So Much Love", "Fadó-Samba", "Pi Pi Pi Pá", "Toillet Zone", "Portugal Na CEE" (uma nova versão muito mais lenta que a original) e ainda os temas "Instrumental n.º2", "Instrumental n.º3", "Instrumental n.º 4", "Instrumental n.º 5" e "Instrumental n.º 6". Recorde-se que o "Instrumental n.º1" era o lado B do single "Sê Um GNR".
Neste trabalho Vítor Rua conseguiu, finalmente, ter liberdade total para fazer o que queria, sem estar condicionado aos ritmos do mercado discográfico, algo que não acontecia aos GNR. É, por isso, que este disco "Pipocas" é associado à música moderna portuguesa, primando por ser um dos seus discos mais experimentais.
O estilo de música do disco varia entre o samba, a Pop, a canção latina, entre outras, com canções cantadas em português e inglês e até em castelhano, com sotaque português.


Após a edição deste disco a banda terminou. Rua continuou com os Telectu e regressaria com os Pós-GNR, sendo que depois chegarão a haver processos em tribunal entre Vítor Rua e GNR. Aparte de todas a querelas, pode-se concluir que, apesar da raridade (actual) das amostras da música dos PSP (nenhuma se encontra na Internet sequer), estes tiveram grande importância para o seguimento da música experimental portuguesa, mais que muitas bandas e artistas de carreiras enormes. Um único álbum marcou, efectivamente, a diferença, sendo que não é a quantidade que determina a excelência do artista, mas a qualidade. A única quantidade que interessa é a quantidade de originalidade, e essa não lhes faltou, sendo um projecto P.ara S.uperar P.ortugal, isto é, ultrapassar preconceitos musicais, e evoluir.


O Grupo Novo Rock (GNR) constitui-se oficialmente em Setembro de 1980. Os elementos do grupo eram Toli César Machado (bateria), Alexandre Soares (guitarra) e Vítor Rua (guitarra). Pouco tempo depois entra para a banda o baixista Mano Zé que já tinha tocado com Rui Veloso.
O primeiro single, com os temas "Portugal Na CEE" e "Espelho Meu", é editado em Março de 1981. O single é um grande sucesso vendendo mais de 15.000 exemplares. Mano Zé abandona, Miguel Megre entra para o seu lugar e mais tarde iria também ocupar-se das teclas.
Ainda em 1981, o grupo lança o single "Sê um GNR" que acaba por vender mais do que o primeiro. Em Setembro entra para a banda o vocalista Rui Reininho.

O primeiro LP, "Independança", é editado em 1982. O disco foi um êxito em termos de crítica, mas é um fracasso em termos de vendas. O disco inclui outro grande sucesso, "Hardcore (1º Escalão)". O lado B do álbum incluía a faixa "Avarias"... com 27 minutos de duração.
A seguir à edição do álbum começam a aparecer os problemas internos na banda. Miguel Megre sai e Alexandre Soares é convidado a sair. Em Agosto de 1982, os GNR actuam no Festival de Vilar de Mouros, apenas com Reininho, Toli e Rua. O concerto chega mesmo a ser anunciado como o último do grupo.

Toli e Vitor Rua são convidados a produzir o álbum de estreia de António Variações. As gravações param a meio porque o estúdio estava super-lotado. Vitor Rua e Jorge Lima Barreto deslocam-se a Nova Iorque e quando regressam Rua decide abandonar o grupo. Então o baixista Jorge Romão (ex-Bananas) e o teclista novo entram para o grupo e Alexandre Soares regressa.
O local de ensaios passa para a cave da casa de Alexandre Soares. "Os Homens Não Se Querem Bonitos" é editado em Julho de 1985. O disco inclui clássicos como "Dunas" e "Sete Naves".

Alexandre Soares sai do grupo em 1987. Para o seu lugar entra, temporariamente, o guitarrista Zézé Garcia, dos Mler Ife Dada, que actua, em Abril, no concerto do Coliseu dos Recreios.
Ainda em 1988, Zézé Garcia regressa em definitivo ao grupo depois de se desligar dos Mler Ife Dada. O álbum "Valsa dos Detectives", com produção do francês Remy Walter, é editado em Março de 1989. Os maiores sucessos deste disco são "Impressões Digitais", "Morte ao Sol", "Dama Ou Tigre" e "Falha Humana".

Mais tarde, já depois do virar do século, para as gravações de "Popless" recorrem aos préstimos do produtor Nilo Romero. O primeiro single é "Asas (Eléctricas)" tema incluído na banda sonora do primeiro telefilme da SIC, "Amo-te Teresa". O disco inclui também os temas "Popless" (com direito a clip censurado na tv!!!), "L's" e "Essa Fada". E enfim, contar mais para quê. Os GNR, depois de tantas entradas e saídas no grupo, mantiveram sempre a sua genialidade, dando sempre passos à frente do seu tempo, procurando a originalidade sem se desviarem do seu G.éN.eR.o.. E por isso são o que são hoje, um grupo respeitado, e de qualidade.







Em 1979, Sérgio Castro e Álvaro Azevedo (membros dos Arte & Ofício) dão corpo a um projecto paralelo a que chamam Trabalhadores do Comércio.

A característica principal do grupo era o facto de cantar em português, com sotaque à moda do Porto, enquanto os Arte & Ofício construíram toda a sua carreira cantando em inglês. Também havia a questão das letras das músicas, que tinham um certo humor.

O seu disco de estreia, editado em 1980, foi o single intitulado "Lima 5", continha um refrão que dizia o seguinte: "Eu só paro lá no Lima 5, Sou um meu de grabatinha e brinco". A voz do grupo era a do sobrinho de Sérgio Castro, João Luís Médicis, então com 7 anos.
O grupo faz algumas primeiras partes dos Arte & Ofício e edita em 1981 um novo single: "A Cançõm Quiu Abô Minsinoue" (traduzindo: A Canção Que o Avô Me Ensinou).

O primeiro álbum "Tripas à Moda Do Porto" foi gravado em Londres e contém o tema mais conhecido da banda: "Chamem A Polícia" (ou "Chamem a pulíssia", no título original.) Outros temas, onde o humor tem lugar marcado são "Atom Messiu, Comantalê Bu" ou "Paunka Roque" (???), para além de "Birinha", "Sim, Soue Um Gaijo do Pôrto" e "Quem Dera".
O segundo álbum foi um fracasso, e todos os outros passaram despercebidos. Os maiores momentos da carreira da banda, após o primeiro álbum foi a ida ao Festival RTP da Canção com o tema "Os Tigres De Bengala", que se classificaria em segundo lugar, e o CD gravado em 1990, se bem que o impacto não foi tanto.
De 1996 a 2007 o grupo rock de humor próprio faz uma pausa, sendo neste último ano que voltam aos palcos, por culpa do seu hit "Chamem a Pulíssia", estando de novo na merecidíssima ribalta.






P.S. (P.) Este artigo tem como objectivo fazer-vos perceber que, por vezes, as forças policiais fazem alguma coisa de evolutivo. Agradeçam ao apelo aos comerciantes do Porto...

Sem comentários: