O escritor Alves Redol nasceu na cidade de Vila Franca de Xira em 1911, no seio de uma família humilde de posses modestas, tendo havido a constante necessidade de trabalhar para auxiliar no sustento do lar. Adoptando uma certa filosofia de esforço e dedicação desde jovem, Alves Redol viria a tornar-se a voz dos trabalhadores, das injustiças sociais, mais que por tê-las testemunhado precocemente pelas dificuldades da família. Na literatura, este contributo revelou-se pela introdução do movimento neo-realista em Portugal.
Aos dezasseis anos concluiu o Curso Comercial e logo se deslocou a Angola para exercer o seu primeiro emprego, regressando à metrópole três anos mais tarde, onde viria a trabalhar em inúmeros locais. A sua intrusão no campo das letras deu-se no ano de 1936, aquando do início da sua colaboração permanente no jornal "O Diabo", para o qual escreveria crónicas e contos.
O seu primeiro romance, introdutor do movimento neo-realista em Portugal, recebeu o nome de Gaibéus (à esquerda) - nome referente ao tratamento dado a camponeses das Beiras que se dirigiam ao Ribatejo anualmente para participar na ceifa do arroz. Este romance aborda toda a temática, centrando-se nesta, das condições de vida dos camponeses ribatejanos. Para a elaboração desta obra pioneira, Alves Redol desenvolveu muito estudo de campo, incluindo certos períodos em que habitou com comunidades de trabalhadores para, com maior habilidade e certeza, mostrar interesse pelas actividades destes e poder retratá-las com exactidão. A propósito da publicação desta obra, confirma-se ter Alves Redol proferido: "este romance não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documentário humano fixado no Ribatejo. Depois disso, será o que os outros entenderem". E esta expressão sintetiza, mais do que uma vontade particular, todo o fim da corrente neo-realista: denunciar o estilo de vida miserável das camadas mais baixas e criticar de forma ousada os comportamentos das elites. Numa análise posterior e de maior profundidade, conclui-se que Alves Redol estava certo: a importância que o seu romance e a sua obra recolheram foi puramente a intervenção social na altura da sua publicação. Afirmo isto porque Alves Redol, e um leque muito maior de escritores desta época, têm vindo a ser prolongadamente esquecidos pelo público, comprometendo o seu carácter de aviso e denúncia social. Na actualidade, encontram-se poucas obras neo-realistas, tendo-se perdido o hábito da literatura de intervenção, que outrora movia multidões e irradiava ideais - daí que eu venha, nas próximas entradas deste espaço, promover o retorno do interesse a estas formas de expressão de meados do século XX. Pela constante crítica e denúncia das realidades vividas pela população portuguesa (em baixo), o escritor chegou a ser preso por razões políticas e seguidamente torturado.
O seu falecimento ocorreu em 1969, na capital, antes desta vivenciar o 25 de Abril que se reflectiria nos seus ideais. No entanto, importa referir o pioneirismo da obra de Alves Redol numa diferente faceta. O seu último romance e obra-prima, Barranco de Cegos, introduziu um carácter existencialista, colocando a preocupação social para um segundo plano, servindo de base para muitos escritores posteriores. Pode dizer-se, sem margem para questões, que Alves Redol foi o marco de uma corrente, havendo contribuído para o seu progresso e acompanhado a sua evolução até ao fim, a tempo de dar os primeiros passos numa nova corrente, a do existencialismo, onde o psiquismo assume a preponderância, remetendo a realidade visível e social para um plano secundário.
O contributo de Alves Redol foi este. Terá sido importante? Terá o tempo cancelado os seus efeitos duradouros? Cabe a resposta ao individualismo da nossa raça.
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