domingo, janeiro 25

Música: O melhor dos anos 70 na Eurovisão

Estamos nos anos 70, uma época de mudança para Portugal e para o mundo. Os jovens á volta do globo pediam pela paz, e usavam cabelos longos e sentavam-se na relva, protestando pelo diálogo. Em Portugal, a guerra também se fez com flores, não nos cabelos, mas nas armas, na década em que Portugal voltou a conhecer a liberdade sob o símbolo dos cravos. Entretanto, o Festival da Eurovisão prosseguia, antes de 1974 com músicas interventivas como a "Festa da vida" de Carlos Mendes e a "Tourada" de Fernando Tordo, que através das letras leves e ritmos contagiantes, passavam mensagens subliminares criticando, ora a impossibilidade de exprimir e se viver a vida numa festa, ora quem estava no topo, no governo (os aldrabões e tantos outros referidos por Tordo); e depois de 1974, com músicas de esperança e com a alegria típica da década. Apesar dos ABBA serem os grandes vencedores da Eurovisão nesta década, vejamos as cinco melhores canções que representaram Portugal nos anos 70, os vencedores lusos, cujas criações ficaram para a história.


Em 5º lugar, Fernando Tordo, com "Tourada", uma canção com letra de Ary dos Santos e que venceu o Festival RTP da Canção em 1973, representando Portugal na Europa no ano similar. Fernando Tordo comentou a sua experiência no Festival da Canção, dizendo:

"O Festival da Canção marcou-me muito, mas foi num outro tempo, com outros autores e compositores, outra música, outros intérpretes. Participei entre 1969 e 1973, ano em que ganhei com a Tourada. Voltei depois em 1977 com Os Amigos, mas nessa altura já tinha outras características. A RTP faz parte da nossa história, como nós fazemos parte da história da RTP. Foram tempos muito importantes para os intérpretes, os autores e os compositores."






Em 4º lugar surgem os Gemini com "Dai li dai li dou"´. Os Gemini são formados por Tozé Brito, Mike Sergeant, Teresa Miguel e Isabel Ferrão, e formaram-se em 1976. Conseguiram vários sucessos no ano da estreia e Tozé Brito foi considerado o compositor português do ano para a conceituada revista de música americana Billboard. Em 1978 participam no Festival da RTP apenas quatro intérpretes, com quatro canções cada, e os Gemini ganham com o título referido no inicio deste parágrafo. No Festival da Eurovisão, realizado nesse ano em Paris, conseguiram apenas 5 votos, acabando em 17º lugar.






O 3º lugar, merece-o Carlos Mendes, com a "Festa da vida", que conseguiu um muito honroso 7º lugar no Festival da Eurovisão. Esta segunda participação de Carlos Mendes prima por ser, digamos...inesquecível. A vida é para ser uma festa, onde todos entram e onde todas as vozes falam, enriquecendo a alma da festa. É esta a mensagem que a música me transmite. E músicas que transmitem mensagens, são raras, digam o que disserem.






A posicionar-se no segundo posto, Paulo de Carvalho, com o eterno "E depois do adeus". Consta que foi esta música a primeira senha para a Revolução dos Cravos de 1974 (o mesmo ano em que Paulo de Carvalho representou Portugal na Eurovisão). Ás 22h e 55m do dia 24 de Abril de 74, esta canção, é emitida pelos Emissores Associados de Lisboa, sendo este um sinal previamente combinado pelos golpistas, que desencadeou a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado. A importância deste música em termos históricos é enormíssima. Porém, na Eurovisão, a canção ficou em último lugar, a par das músicas da Noruega, Alemanha e Suiça.






Em primeiro lugar, a fantástica Manuela Bravo, com "Sobe sobe, balão sobe!", a representante de 1979. Um hino á esperança numa década melhor que a de 70, num refrão contagiante, que quase todos os portugueses conhecem (seja da interpretação original em 79, seja de ouvir na rádio ou do efeito publicidade). Este é o grande hino dos anos 70, pois encerra em si todas as ânsias vividas na época e a necessidade de um futuro mais belo. As pessoas queriam chegar ás estrelas...como o balão.







Ao que parece a RTP lembrou-se este ano de fazer um programa dedicado aos antigos êxitos portugueses da Eurovisão. Estejam atentos á TV!

2 comentários:

RA disse...

Que artigo tão interessante!
Adoro esta época da Eurovisão bem como quase todas antes de tornarmos esta num produto comercial.

Continuem com o maravilhoso trabalho. O blog está fantástico!

Anónimo disse...

Sim, claro que todas essas músicas são bastante tocantes, mas a que me mais me faz sentir orgulhoso é aquela que foi levada à Eurovisão de 1975: "Madrugada", letra de José Luís Tinoco e cantada por Duarte Mendes.
É uma música fantástica, que apela ao nosso patriotismo e é um bom exemplo da abertura ocorrida depois do 25 de Abril, rompendo "a canção que não havia" ou melhor, a canção escondida, que não podia haver numa ditadura.

Um verdadeiro hino de intervenção e de glorificação da liberdade.

Parabéns a todos pelo trabalho e especialmente ao Isac pela minúcia mostrada nos artigos musicais.