Esta semana, conforme não descrito há uma semana, decido apresentar-vos, por biografia, um considerável vulto de entre os mais significativos do movimento neo-realista português, que tenho vindo a expor em sucessivas semanas. Trato de Soeiro Pereira Gomes, nascido no concelho do Baião, no Norte do país, no ano de 1909. A sua obra, vincadamente de denúncia social e de crítica à realidade nacional da época, caracterizada e manchada de profundas desigualdades sociais, parte delas um fruto amargo do regime salazarista, é hoje calculada como um tesouro da literatura de meados do século XX.
Pereira Gomes afirmou-se sempre, e gente há que lhe acha a morte resultado desta convicção, como um comunista activista e confiante nas suas crenças. Filiou-se desde cedo no Partido Comunista. Antes, porém, importa referir uma das naturezas do seu conhecimento tão exacto do Portugal de então: cedo partiu para Espinho, onde viveu a sua infância; estudou em Coimbra, alcançando maior grau académico do que o seu amigo Alves Redol; trabalhou mais de um ano numa colónia, Angola, e regressou à metrópole para exercer numa unidade fabril de Alhandra, aqui tão cerca. Pela constante evocação dos ideais comunistas como solução segura para a situação do país, considera-se o seu produto literário como "realismo socialista".
Os Esteiros, publicada no ano de 1941, mostra-se como a sua obra-prima, vindo a assumir invulgar impacto no pensamento nacional. Esta obra ímpar aborda injustiças e miséria social, através do retrato fiel de um grupo de crianças que abandonam a escola precocemente para se empregarem numa fábrica de tijolos. Pelo seu tema se compreende a dedicatória descrita: "aos filhos dos homens que nunca foram meninos". Esta mensagem que antecede as páginas do livro expressa uma vaga ideia de esperança envolvida com descrença, desânimo e desencantamento. A sua primeira edição contou com ilustrações do também comunista Álvaro Cunhal, talentoso ilustrador.
Viveu os últimos quatro anos da sua vida na clandestinidade: efeitos graves das perseguições que o regime impôs em sua busca pelo carácter revolucionário da sua obra. Doente com cancro do pulmão, Soeiro Pereira Gomes nunca pôde receber assistência médica por via da clandestinidade em que habitava, vindo a morrer em 1949, aos 40 anos de idade. Está hoje sepultado em Espinho, onde viveu a sua infância.
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