sábado, janeiro 31

Cinema: O Cineasta do Regime

António Lopes Ribeiro, aos dezassete anos, dedicava-se à crítica cinematográfica no jornal Diário de Noticias. Contudo, a sua paixão pelo cinema revelou-se maior e estreou-se como realizador a 1928 com “Bailando ao Sol”, apresentando, num ponto de vista estático, a mulher do século XX.

Procurando novidades cinematográficas, viaja até a Alemanha e de lá recruta actores e técnicos alemães com o intuito de desenvolver o cinema português. Depois de adquirir novos conhecimentos e técnicas, chega a realizar o que nós chamamos hoje um Making of do filme Gado Bravo.



Durante o Estado Novo é convidado por António Ferro, na altura director do Secretariado de Propaganda Nacional, a realizar uma película sobre o regime salazarista. Assim em 1937, é realizado “A Revolução de Maio”, onde é apresentada a evolução promovida pelo Estado Novo.
Apesar desta produção, a preferência do público pela comédia revela-se, deixando para trás esta película. Após esta primeira parceria, António Ribeiro é nomeado director da Missão Cinematográfica às Colónias de África, em 1938, da qual o cineasta realiza o primeiro filme “Feitiço do Império” (1940) seguido de muitos outros documentários.



Após esta realização, António Lopes Ribeiro começa a ser chamado por “o Cineasta do Regime”.
Com o intuito de dar ao cinema português outro estatuto, cria em 1941, a sua própria produtora, a Produções Lopes Ribeiro.


Apesar da sua ambição da realização de longas-metragens, a sua carreira com cerca de 30 décadas, é dedicado à realização de documentários. As suas poucas longas-metragens são:
  • Gado Bravo, 1934,
  • Feitiço do Império, 1940
  • Pai Tirano, 1941
  • Amor de Perdição, 1943
  • A Vizinha do Lado, 1945
  • FreI Luis de Sousa, 1950
  • O Primo Basílio, 1959

Participa, ainda durante o Estado Novo, num programa na RTP, Museu do Cinema, no qual apresentava os filmes mudos. Todavia, após o 25 de Abril de 1975, António Lopes Ribeiro demite-se do programa para evitar condenações.

E como ironia do destino é convidado, em 1985, a regressar e voltar a apresentar o programa da RTP.

A última vez em que é falado o seu nome, numa grande ocasião, é quando o seu filme Pai Tirano é adaptado para o teatro, o qual falava, precisamente, sobre o teatro.

sexta-feira, janeiro 30

Arte Popular: MADEIRA.



O "brinquinho" é o instrumento regional típico da Madeira, em que um grupo vestido com o traje regional dança em torno.

Este instrumento musical é composto por um conjunto de bonecos de paus (vestidos com o traje tradicional), castanholas e fitilhos, dispostos numa cana de roca e movimentado pelo portador, com movimentos verticais.

A maioria das pessoas conhece este "bailinho". No entanto existe outro, mais popular e rústico, chamado "brinco" que os camponeses tocam nos arraiais típicos, onde se canta e dança em coreografias inventadas com grande criatividade.

Sem qualquer regra, ou restrição é cantado e bailado por todos, sem ser preciso qualquer traje. Basta querer entrar na roda.

O "brinquinho" apesar de ser o instrumento regional é apenas utilizado no bailinho coreografado (este bailinho surgiu quando começaram a aparecer os primeiros ranchos folclóricos, há cerca de 50 anos). Actualmente são estes que retratam as danças e cantares da Ilha da Madeira.

segunda-feira, janeiro 26

Literatura: Ilustríssima pessoa

Ocorre-me tratar em vulgares e escassas linhas um vulto da História que, em simples aparência, nada possui ou possuiu que permita a compreensão sobre a razão para agora, antes de nada mais, o abordar. Falo de Albert Einstein, o famoso físico, e a ele dedico estas primeiras palavras por ter sido, entre tantos outros cujo nome me falha por ora, enquanto pequeno, pouco dedicado e mal sucedido nos seus estudos. E toda essa situação, estranha mas em simultâneo propícia no universo dos grandes génios, é contrária à que vivenciou o também grande génio que me compete tratar hoje e em mais três semanas após esta: Fernando Pessoa. E não é assim abstracto o motivo de iniciar a biografia de hoje com o assunto da educação de Pessoa, se, como é sabido e constatado, o nascimento de um sujeito não promove, por si só, a inserção deste, de imediato, no sistema de ensino... Porém, depressa chegarão ao entendimento das minhas razões ao verificar que o sucesso que Fernando Pessoa recolheu nos seus estudos terá contribuído para a formação do grande marco cultural que hoje é para todos nós, enquanto portugueses e enquanto humanos.

Ainda assim, por figurar prudente evitar desconsiderações sobre a minha pessoa (e sublinhe-se o propósito de dizer pessoa neste artigo, e não somente sobre mim), regresso já ao início da nossa narração de hoje. Para que saibam até que limites chegou a minha ignorância passada, hoje por graça superior já morta, a primeira vez que o nome de Fernando Pessoa ecoou nestes ouvidos que são meu pertence, foi quando, passeando alegremente no Chiado, onde, aliás, nunca na vida passeei descontente, avistei, em ferro semelhante ao da cadeira e mesa onde se senta, a estátua graciosa do poeta, defronte do portal majestoso do mais belo e significativo café de Lisboa. Soube à data que se tratava de um importante poeta, e um tremendo número de anos passariam até eu saber que palavras escreveu ele no seu nome e noutros. E como me parece agora, e de novo, necessário justificar o desvio que repeti na nossa narração, escrevo e registo que o realizei para que muitos entendam que, apesar da minha grande ignorância passada, esse mesmo desconhecimento sustentava-se em causas um pouco aceitáveis: Fernando Pessoa é o poeta do Chiado. Entrou isto na minha mente, e hoje, que conheço a sua vida e os seus momentos, não se sumiu essa ideia de dentro de mim, antes a fez consolidar-se e passei a olhá-la com olhos de conhecedor.

Fernando Pessoa, muito antes de sonhar que lhe fariam uma estátua naquele lugar e mesmo antes de sequer pensar em qualquer assunto, nasceu no Chiado, no prédio que se ergue tanto hoje como na altura diante do Teatro de São Carlos, em frente ao qual, aproveito para dizer, foi erigida há um ano uma segunda estátua representativa de Pessoa, interessantíssima, como comemoração dos cento e vinte anos sobre o seu nascimento naquele local, que sempre foi associado a fenómenos culturais. No entanto, este acontecimento essencial na nossa cultura, bem mais influente do que qualquer espectáculo de ópera ali adiante, não se sucedeu à vista de todos. Naturalmente. À ópera só vai quem tem posses; ao nascimento de Fernando Pessoa só vai quem o teve por nove meses no ventre. O poeta conheceu a luz do dia a 13 de Junho de 1888 - um fabuloso ano para a literatura portuguesa, visto que além deste parto foi também publicado o romance Os Maias, de Eça de Queirós. O baptismo de Fernando Pessoa, seria também no Chiado, um mês mais tarde, na Igreja dos Mártires.

A família de Fernando Pessoa, que vivia no mesmo apartamento distinto junto à ópera, não era numerosa como se habituava ver em Lisboa. Viviam na casa os seus pais, irmãos (que só nasceriam depois), a avó e duas criadas idosas. O seu pai conciliava dois empregos: era funcionário público e esboçava críticas musicais para o Diário de Notícias, e deste espírito trabalhador, tal como do reduzido número de membros da família, se pressupõe a vida desafogada que permitia à sua família. Porém, por estupendo infortúnio, seu pai faleceu de tuberculose quando Fernando Pessoa tinha somente cinco anos. Iniciara-se a série de catástrofes, desgostos e transformações que lhe perturbariam o crescimento e amadurecimento psicológico. Sua mãe, por sorte, tornou a encantar-se por um homem ilustre da capital, que servia como cônsul português na África do Sul, para onde se mudariam pouco depois. No entanto, ainda por ocasião da morte do pai de Pessoa, o nosso poeta escreveu o seu primeiro poema e dedicou-o à mãe; tinha, então, como referido atrás, cinco anos.

Por ordem das obrigações que nos colocam a idade, Fernando Pessoa iniciou os seus estudos em terras da África do Sul, na cidade de Durban. A sua educação foi feita parte dela em português e outra parte na língua inglesa. O seu conhecimento profundo do idioma hoje tido como universal permitiu-lhe, ao longo da vida, escrever, expressar-se em inglês, assim como fazer traduções - foi esse o emprego de toda a sua duração neste mundo: tradutor de correspondência comercial. É então sugerido, penso eu, que Fernando Pessoa regressou da África do Sul para trabalhar em Lisboa, da qual sentia falta em terras distantes e a qual sentia curiosidade de olhar com os olhos que já não se recordavam daqueles lugares. De retorno à capital portuguesa, com toda a sua formação a torná-lo um homem invulgarmente intelectual, começou a interessar-se por alguns escritores importantes do panorama literário da História de Portugal, como Cesário Verde e Padre António Vieira.

No entanto, características psicológicas do poeta aproveitariam que este se tornasse mais débil a cada ano, e procurasse refúgio em prazeres menos aceitáveis, como o vício do absinto, que lhe traria, por fim, a doença que o mataria. Aos 47 anos, já internado no Hospital de São Luís dos Franceses havia uns tempos, morria de cirrose hepática. Diz-se que, ao ver a morte aproximar-se, pediu a uma enfermeira que lhe trouxesse para perto os óculos. Debruçou-se sobre páginas brancas e escreveu algumas palavras, para não acordar no dia seguinte: evocou os seus heterónimos e terminou a obra literária com a misteriosa frase "Eu não sei o que o amanhã trará", escrita na língua inglesa. Tinha morrido, em Lisboa, aquele que o influente crítico literário americano Harold Bloom considerou o melhor poeta do século XX, a par com o chileno Pablo Neruda. Fernando Pessoa, para nós portugueses, significa mais: o introdutor do modernismo em Portugal, o génio universal da heteronímia, a grande personalidade das letras portuguesas no século XX e o intérprete e denunciante português das mais rebuscadas sensações e emoções. Um génio... Um artista... Um orgulho... Ele foi tudo isso e tudo o mais que a boa vontade emprestar.

ArtePopular: Azulejo

Nas primeiras décadas do século XX, o azulejo foi influenciado pela Arte Nova que aparece nos trabalhos de Rafael Bordalo Pinheiro e em numerosos frontões e faixas decorativas produzidas nas fábricas de Sacavém, Desterro, Carvalhino e Fonte Nova. A Arts Deco, que teve uma presença mais discreta na azulejaria portuguesa, foi predominantemente utilizada em várias fachadas em vila franca de Xira.
Durante os dois primeiros quartéis do século XX, a azulejaria revivalista ocupou um espaço importante, sendo numerosos os painéis de pendor historicista e folclórico produzidos durante este período. O principal representante desta corrente foi Jorge Colaço, autor de uma vasta obra em que a técnica da pintura a óleo se procurou adaptar ao azulejo.
A partir de 1950, os artistas plásticos portugueses começaram a interessar-se pela utilização do azulejo. Para isso contribuíram Jorge Barradas, considerado o renovador da cerâmica portuguesa e Keil do Amaral que, nos contactos com os arquitectos brasileiros, redescobriu as potencialidades deste material de revestimento cerâmico. Embora sejam numerosos os artistas plásticos que ensaiaram experiências no campo da azulejaria, alguns deles conquistaram uma posição de destaque mercê da dimensão e da qualidade da obra produzida, como é o caso de Maria Keil, Manuel Cargaleiro, Querubim Lapa e Eduardo Nery. Na sequência de encomendas feitas por entidades oficiais ou por particulares, a azulejaria moderna portuguesa enriqueceu-se com alguns exemplares notáveis como os conjuntos de painéis da Av. Infante Santo e do Metropolitano, a fachada da Reitoria da Universidade e o painel da Av. Calouste Gulbenkian, todos em Lisboa.
A par desta azulejaria de características eruditas, o azulejo português continuou, nesta segunda metade do século XX, a manifestar-se através de exemplares menos elaborados ou de carácter popular, como os revestimentos das fachadas das casas dos emigrantes e os registos, cartelas e painéis naturalistas, desenhados pelos artífices que trabalham nas fábricas. Mas, através de todas estas formas, continuou a revelar a sua vitalidade e a reafirmar-se como uma das manifestações mais originais das artes decorativas europeias.

domingo, janeiro 25

Música: O melhor dos anos 70 na Eurovisão

Estamos nos anos 70, uma época de mudança para Portugal e para o mundo. Os jovens á volta do globo pediam pela paz, e usavam cabelos longos e sentavam-se na relva, protestando pelo diálogo. Em Portugal, a guerra também se fez com flores, não nos cabelos, mas nas armas, na década em que Portugal voltou a conhecer a liberdade sob o símbolo dos cravos. Entretanto, o Festival da Eurovisão prosseguia, antes de 1974 com músicas interventivas como a "Festa da vida" de Carlos Mendes e a "Tourada" de Fernando Tordo, que através das letras leves e ritmos contagiantes, passavam mensagens subliminares criticando, ora a impossibilidade de exprimir e se viver a vida numa festa, ora quem estava no topo, no governo (os aldrabões e tantos outros referidos por Tordo); e depois de 1974, com músicas de esperança e com a alegria típica da década. Apesar dos ABBA serem os grandes vencedores da Eurovisão nesta década, vejamos as cinco melhores canções que representaram Portugal nos anos 70, os vencedores lusos, cujas criações ficaram para a história.


Em 5º lugar, Fernando Tordo, com "Tourada", uma canção com letra de Ary dos Santos e que venceu o Festival RTP da Canção em 1973, representando Portugal na Europa no ano similar. Fernando Tordo comentou a sua experiência no Festival da Canção, dizendo:

"O Festival da Canção marcou-me muito, mas foi num outro tempo, com outros autores e compositores, outra música, outros intérpretes. Participei entre 1969 e 1973, ano em que ganhei com a Tourada. Voltei depois em 1977 com Os Amigos, mas nessa altura já tinha outras características. A RTP faz parte da nossa história, como nós fazemos parte da história da RTP. Foram tempos muito importantes para os intérpretes, os autores e os compositores."






Em 4º lugar surgem os Gemini com "Dai li dai li dou"´. Os Gemini são formados por Tozé Brito, Mike Sergeant, Teresa Miguel e Isabel Ferrão, e formaram-se em 1976. Conseguiram vários sucessos no ano da estreia e Tozé Brito foi considerado o compositor português do ano para a conceituada revista de música americana Billboard. Em 1978 participam no Festival da RTP apenas quatro intérpretes, com quatro canções cada, e os Gemini ganham com o título referido no inicio deste parágrafo. No Festival da Eurovisão, realizado nesse ano em Paris, conseguiram apenas 5 votos, acabando em 17º lugar.






O 3º lugar, merece-o Carlos Mendes, com a "Festa da vida", que conseguiu um muito honroso 7º lugar no Festival da Eurovisão. Esta segunda participação de Carlos Mendes prima por ser, digamos...inesquecível. A vida é para ser uma festa, onde todos entram e onde todas as vozes falam, enriquecendo a alma da festa. É esta a mensagem que a música me transmite. E músicas que transmitem mensagens, são raras, digam o que disserem.






A posicionar-se no segundo posto, Paulo de Carvalho, com o eterno "E depois do adeus". Consta que foi esta música a primeira senha para a Revolução dos Cravos de 1974 (o mesmo ano em que Paulo de Carvalho representou Portugal na Eurovisão). Ás 22h e 55m do dia 24 de Abril de 74, esta canção, é emitida pelos Emissores Associados de Lisboa, sendo este um sinal previamente combinado pelos golpistas, que desencadeou a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado. A importância deste música em termos históricos é enormíssima. Porém, na Eurovisão, a canção ficou em último lugar, a par das músicas da Noruega, Alemanha e Suiça.






Em primeiro lugar, a fantástica Manuela Bravo, com "Sobe sobe, balão sobe!", a representante de 1979. Um hino á esperança numa década melhor que a de 70, num refrão contagiante, que quase todos os portugueses conhecem (seja da interpretação original em 79, seja de ouvir na rádio ou do efeito publicidade). Este é o grande hino dos anos 70, pois encerra em si todas as ânsias vividas na época e a necessidade de um futuro mais belo. As pessoas queriam chegar ás estrelas...como o balão.







Ao que parece a RTP lembrou-se este ano de fazer um programa dedicado aos antigos êxitos portugueses da Eurovisão. Estejam atentos á TV!

sábado, janeiro 24

Cinema: Encantados pela Severa

Tendo escrito sobre o cinema sonoro em Portugal no meu último artigo, apresento-vos hoje o primeiro filme sonoro português, “A Severa”.

Neste filme, realizado por Leitão de Barros em 1931, não é esquecido o Fado e sendo sonoro não podia faltar a música característica de Portugal. Adaptado do romance de Júlio Dantas, este filme apresenta-nos a história da vida de Maria Severa, considerada a criadora do Fado.

“A Severa” apresenta-nos a sociedade portuguesa no século XIX, com as touradas, os trajes folclóricos e os campinos das Lezírias e a vida de uma cigana fadista, Severa, e a sua paixão pelo cavaleiro e fidalgo D. João, Conde de Marialva, também ele encantado pela sua voz, tal como o povo e a Nobreza.

É um filme inteiramente português. Contudo, como não havia um estúdio apto para a realização de um filme sonoro, foi realizado nos estúdios da Tobis em França. Apesar deste breve desvio por terras francesas, “A Severa” foi gravado em Portugal, em lugares como a Praça de Touros de Algés ou no Palácio de Queluz.

Após a conclusão de toda a produção do primeiro filme sonoro português, o filme de Leitão de Barros estriou no São Luíz, em Lisboa, sendo considerado um acontecimento nacional, no dia 18 de Junho de 1931.

Por ser uma novidade, por ser português e por apresentar Portugal no século XIX, com fado e touradas, “A Severa” conquistou o público e esteve em cartaz durante 6 meses e foi visto por cerca de 200 mil espectadores.

Este filme por muitos é considerado uma obra de arte, tão grandioso como “A Canção de Lisboa” ou “Pátio das Cantigas”, e outros que ficaram na história do Cinema Sonoro Português.
Hoje, após a sua restauração, encontra-se na colecção da Cinemateca Portuguesa.

quinta-feira, janeiro 22

Pintura: Júlio Pomar

Antes de mais, queria alertar para o facto de que os meus artigos, neste período, continuarão a ser de carácter biográfico. Ao longo das várias semanas falarei de diversas personalidades da pintura na segunda metade do século XX.
Para este artigo decidi que vos iria apresentar o pintor neo-realista Júlio Pomar.
Nascido em 1926, Júlio Pomar foi o protagonista do neo-realismo em Portugal nos anos 40 e 50 e é considerado um dos maiores nomes da arte europeia.
A família queria que fosse engenheiro ou arquitecto, porém foi para Escola Superior Belas-Artes em Lisboa e no Porto estudar pintura depois de ter frequentado a Escola António Arroio. Em 1947, com 19 anos, realizou a sua primeira Exposição Individual no Porto (onde apresentou algumas das suas obras mais emblemáticas) e mais tarde, aos 37 anos, foi para Paris.
O seu primeiro quadro a ser vendido foi uma cena de saltimbancos, que foi vendida em 1942 ao reconhecido Almada Negreiros.












Durante a sua estadia no Porto fez parte de um grupo de jovens intitulados “ Os Convencidos da Morte”, este nome surgiu em oposição ao movimento “Os Vencidos da Vida” do século XIX ao qual pertenciam nomes como Eça de Queirós e Antero de Quental. Apesar de algumas pessoas terem associado este grupo a implicações políticas, o grupo de jovens “Os Convencidos da Morte” só participava em exposições e as únicas implicações ou intervenções que tinha era a nível cultural. Porém Júlio Pomar foi expulso da Escola Superior de Belas-Artes no Porto devido à sua participação no Movimento de Unidade Democrática, e mais tarde a PIDE procedeu à destruição de um grande mural da autoria do pintor.
Júlio Pomar, actualmente com 82 anos, viveu intensamente a cena política que se vivia em Portugal. Por volta do ano de 1947 foi preso em Caxias, assim como o seu quadro “Resistência” que foi capturado pela PIDE.
Os acontecimentos do golpe de estado a 25 de Abril de 1974 envolveram intensamente o pintor e, a 10 de Junho desse mesmo ano participou, em conjunto com mais 48 artistas, na composição de um painel comemorativo da queda do regime fascista.

Já tendo feito várias exposições, tendo dado aulas de desenho, reivindicado contra o regime político, e dado o seu contributo ao país a nível da pintura e da escultura, aos 60 anos da sua carreira artística o maior desejo de Júlio Pomar é formar a sua fundação.

ANEXO: notícia de 3 de Agosto de 2008
“«Salazar ajudou-me a fazer a opção pela pintura»
JORGE FIEL Texto e ORLANDO ALMEIDA Foto

Entrevista com Júlio Pomar. Acha que a vida é uma espécie de loja de tintas ou dicionário em movimento e actua em conformidade. Não ser capaz de se repetir e viver sempre a mudar o botão fizeram- -no viajar até aos 82 anos com um humor invejável e uma arte notável. Era jovem e dava aulas quando Salazar implicou com um retrato que fez de Norton de Matos e o expulsou do ensino. Ele agradece ao ditador tê-lo obrigado a ser pintor - e também escritor de poemas, ensaios e fados.

Uma das coisas que surpreende na sua arte é que está em ruptura constante e sempre a absorver as novidades. A que se deve esta inquietação e permanente mudança?

Um dos vícios que tenho é não ser capaz de repetir as coisas. Eu não sei o que seria de mim se fosse funcionário público e tivesse de estar sempre a escrever naqueles livros imensos. Bem, agora já não se escreve nos livros.
Agora é ao computador.

Exactamente! Lembro-me de uma vez em que tinha de pagar a taxa militar, por não ter feito tropa, e fui a uma repartição que ficava num terceiro andar no Bairro Alto. Parecia uma cena de teatro amador. Havia uma lâmpadazinha lá em cima, muito fosca, e um senhor com mangas de alpaca - aquilo que no Porto se chama manguitos, aqui em Lisboa interpretam manguito de maneira diferente -, com um lápis, daqueles muito grossos que davam nos stands de automóveis, a querer meter um número com não sei quantos algarismos numa colunazinha que teria um centímetro. É claro que chegava ao fim e não cabia. Ele pegava na borracha e tentava de novo. Fez isso não sei quantas vezes. Juro que é verdade. Não era teatro de amadores, nem revista do Parque Mayer.

Essa capacidade de viver sempre a mudar o botão é extensível às novas tecnologias? Usa telemóvel?

Não. Chulo o próximo. Não, até já comprei um, mas não me dá jeito. Depois é uma coisa muito pequenina, os meus dedos não se habituaram. Aqui há uns anos, estava com o Jorge Sampaio e o Siza numa manifestação e eu precisava de fazer um telefonema. O Álvaro Siza não tinha, o Jorge Sampaio também não, mas a coisa resolveu-se logo, porque um presidente nunca vem só.

Havia um assessor por perto...

Uma data deles! Um puxou logo do telemóvel que até parecia que estava a sacar de uma arma. Rimo-nos muito.

E fotografias? Tira fotografias?

Não tiro fotografias e não guio automóveis. Eu até gosto muito de automóveis, mas as máquinas comigo não dão.

A fotografia nunca o apaixonou?

Ainda há uns anos fui comprar uma máquina. Mas a minha maneira de olhar para as coisas é completamente diferente da visão do fotógrafo. Eu acho que nós estamos ainda na pré-história da fotografia. No fundo, para a fotografia é como se o mundo fosse uma salsicha ou um chouriço. É um corte. É um corte no tempo. Ora a minha visão é ao longo do tempo. Das poucas vezes em que eu peguei numa máquina, quando ia para disparar, já tudo tinha desaparecido. Não sei se estou a ser claro. O processo é completamente diferente. A fotografia é outra coisa. Não tem nada a ver. É como quase escrever um texto de opinião ou um romance.

Mas usa muito a fotografia no seu trabalho...

Sim, sim, uso fotografias. Sobretudo fotografias que, digamos, ficaram na minha memória. Trabalho sobretudo só com a memória.

E tem boa memória?

Não, não, não, não... Há dois tipos de memória, como há duas maneiras de olhar para as coisas. Há uma memória ou uma visão que é abrangente, que apanha tudo sempre, e, do lado oposto, há o querer ver uma coisa e só se ver uma coisa. Isso é muito engraçado. Há pessoas que quando vão na rua olham para todos os lados, vêem os cartazes, vêem tudo. E outras pessoas vão determinadas no seu caminho e não vêem nada. Ainda há dois dias ou três, estava com a Graça Morais, disse-lhe que Lisboa está cheia de galerias por todo o sítio, contei-lhe de uma conversa com um motorista de táxi que falou de um amigo que se tinha divorciado e para compensar a senhora.
(…)
Há mais de 30 anos que reparte a vida entre Paris e Lisboa. Este permanente vaivém entre dois mundos influencia o seu trabalho?

Há muitos dias em que eu não saio à rua, tanto aqui como em Paris, ou então só saio para jantar com uns amigos. Já não sou aquele Júlio Pomar que andava pelas ruas quase sem destino e fazia grandes trajectos a pé. Isso hoje não sou capaz de fazer ainda.

Porque é que continua a ir para Paris?

Primeiro, porque me habituei muito a trabalhar em Paris.

Mas é mais produtivo lá?

Não, isso é igual. Quando fui para Paris, tinha a necessidade de ver coisas, saía todos os dias. Nessa altura, seria impensável um dia fechado em casa. Mas agora tenho lá os meus amigos, etc. E depois, repare, há outra coisa, hoje as pessoas se não têm uma casa de fim-de-semana ficam desqualificadas. Ou menos qualificadas. Se nasceu na província, volta-se à terra natal. Tive a pouca sorte de nascer em Lisboa, quem nasce em Lisboa não tem terra. Voltando à Graça Morais, ela é de Trás-os-Montes e, portanto, tem terra aonde voltar.
(…)
Durante os 60 anos que leva a trabalhar, alguma vez teve ordenado fixo ao fim do mês?

Tive. Quando fui professor. Era bastante novo e dei aulas de Desenho na Escola Afonso Domingues.

Durante quanto tempo?

Acho que um ano e picos. Porque entretanto foi a campanha do general Norton de Matos. Fiz um retrato, que teve uma grande popularidade entre os rapazes que diziam "lá vi a caricatura do sr. doutor", mas parece que Salazar se interessava sobre as actividades dos seus subordinados e mandou-me embora. O que só me fez bem. Imagine você que eu me tenho habituado? Eu não sou de massa diferente.

Podia ter entrado naquela rotina?

Podia ter entrado naquilo. A massa não era diferente. Simplesmente tinha de sobreviver, tinha de tentar por todos os lados. E como não tive jeito para aquelas coisas que se faziam na altura, as publicidades e os cartazes. No meu tempo, os meus colegas todos iam para um atelier de publicidade. Foi o que aconteceu ao Vespeira, ao Fernandes Azevedo, essa gente já toda morreu. Era a perspectiva que havia à frente, não é?

O Salazar ajudou-o a fazer a opção pela pintura a tempo inteiro?

O Salazar e a falta de jeito para as coisas da publicidade. E eu tentei muitas vezes.

Ai tentou?

Tentei, pois. Já tinha filhos, etc. Tinha de sobreviver de qualquer maneira.

Quando foi para Paris, com 37 anos e já homem feito, já vivia da pintura?

Eu não vou para Paris em princípio de vida, como foi gente do meu tempo, o Eduardo Luís, o Costa Pinheiro e outros. Nessa altura, eu já estava a poder viver, bastante modestamente, é preciso que se diga, do meu trabalho.Partiu para viver e aprender coisas novas?
Sim. Foi fundamental porque a informação e a preparação aqui eram praticamente inexistentes. E nada nasce do nada. Nas artes há muita aprendizagem. E nessa altura em Portugal o ambiente à volta era muito pobre.
Tinha um tio que queria que fosse arquitecto ou engenheiro. Desde que se lembra sempre quis ser artista?

Todo o menino que gostava de desenhar a família mandava-o para arquitectura. Até que um dia, estava eu na escola primária, esse meu tio, que era uma espécie de chefe da família, veio com a ideia de que eu devia era ir para engenheiro, porque era mais importante do que arquitecto.

Entrou-lhe por um ouvido e saiu-lhe pelo outro?

Fui para Belas Artes e nem sequer para arquitecto, mas sim para aprender pintura.

Gostou da escola?

Aqui em Lisboa, Belas Artes era um sítio absolutamente tenebroso, dirigido por um homem chamado Luís Alexandre da Cunha, arquitecto, ao que se dizia, mas cuja obra na pintura parece que foram, enfim, uns sanitários de uma estação de comboios. Era um homem que era perfeitamente monstruoso e com ideias definidas. Quem vinha da Escola António Arroio, como era o meu caso, não passava. Chumbava-nos.

EDIÇÃO COMPLETA EM PAPEL “

segunda-feira, janeiro 19

Música: Eurovisão até Tonicha

Antes de principiar o meu artigo, tenho necessidade de esclarecer o modo como a linha que rege o caminho dos meus artigos seguirá nas próximas semanas. Após na semana passada ter olhado para os primeiros quatro anos de Portugal na Eurovisão, e esta semana para o quarteto de anos seguinte, começarei a fazer uma espécie de compilação dos melhores momentos da história lusa na Eurovisão. Assim, na próxima semana criarei uma espécie de top 5 das melhores interpretações dos anos 70, seguida de outro dedicado aos anos 80, e depois dos anos 90. Assim poderei relembrar-vos alguns dos êxitos lusos na Eurovisão, num verdadeiro espólio de tesouros para os ouvidos.
Voltando ao artigo.

1968, 1969, 1970 e 1971. Quatro anos ricos para a música em Portugal, recheados de canções vanguardistas, letras fortes, ritmos embaladores. Numa palavra, clássicos!

Começamos em 68 com Carlos Mendes na sua primeira participação no Festival da Canção. A música chama-se "Verão" e faz lembrar os ritmos dos The Beach Boys. A música é um passo em frente, um fugir á tradicional música portuguesa mais sentimental (de um modo algo negro e saudosista), para se refugiar em tons solarengos, numa voz jovem, e num instrumental digno de acompanhar a vida agitada, e, por outro lado, despreocupada de um surfista. Ainda assim, não obstante a qualidade da música, Carlos Mendes era jovem e inexperiente, o que explica a actuação menos consistente.









No ano seguinte, Simone de Oliveira volta á Eurovisão, e volta em grande, com a potentíssima "Desfolhada Portuguesa", provavelmente a melhor música portuguesa que alguma vez representou Portugal nos palcos europeus. Arrepiante. Absolutamente. A letra fez história, na medida em que foi polémica. Nunca ninguém se atreveria a cantar, antes de Simone, uma letra como esta. "Quem faz um filho, fá-lo por gosto" canta ela, e quem ouve esta música, ouve-a com gosto!
Há quem diga que a música apenas ficou nos últimos lugares, devido ao facto de Portugal continuar a viver num regime ditatorial, e graças a isso, a Áustria apelou á sabotagem da canção portuguesa, como forma de protesto. Assim, com apenas 2 pontos da França, e 1 da Bélgica, Portugal e "Desfolhada Portuguesa" não chegaram ao topo, como merecido.







Chegámos aos anos 70, pela mão de Sérgio Borges. No ano em que Julio Iglesias representou a Espanha, Portugal não participa a Eurovisão, embora tenha realizado o Festival da Canção da RTP, no qual Sérgio Borges vence a todos os outros concorrentes. Foi um golpe para Sérgio Borges, uma vez que este tinha já a expectativa de representar o seu país na Holanda, onde se realizaria o festival nesse ano. Tanto Portugal, como os 3 países da Escandinávia recusaram participar na edição de 1970, insatisfeitos com os resultados dos anos anteriores e com o sistema de votação.


Em 1971, Portugal regressa em força á Eurovisão. Tonicha, interpretando "Menina do Alto da Serra", que se posiciona num honroso 9º lugar, entre 18 países. Com uma imagem calma, bela, a roçar o hippie, Tonicha conquista todos com uma música de Ary dos Santos, considerada um dos símbolos da transição entre os anos 60 e 70.

Literatura: Oxalá sejamos ignorantes!

Apesar de pouco declarado no artigo da semana que passou, por razões de ordem psicológica, visto que o nosso interior tende a largar-se pelo esquecimento como forma de desentorpecer, hoje guardo novidades que vos darei a conhecer, e hoje aliás mais cedo do que o costume - são agora dez horas da manhã. Esta escrita que desenvolvo todas as semanas vem hoje a coincidir com qualquer actividade suficientemente delicada que me faria abrir os olhos e não tornar a recair no sono.

Durante a semana que passou, encaminhei-me à biblioteca mais próxima de onde estou, aquela que já me parece conhecer quando me sente os passos indo ao seu encontro, e procurei literatura do autor que abordei na passada semana: Mário de Sá-Carneiro. Recordemos parcelas da sua biografia. Sá-Carneiro fundou a revista literária Orfeu, em parceria com os seus amigos, incluindo Fernando Pessoa, e nos poucos anos que tardou a sua vida desenvolveu uma obra escrita de extrema importância no contexto do início do século XX, na medida em que contrastou com as tendências em voga no virar do século. Os seus sentimentos que brotavam como nenhuns outros haveriam de matá-lo, por incapacidade deste de viver com eles e acordar com eles em cada dia. Entenda-se então que seria de fraca consideração se dedicássemos a este escritor um único artigo: valia ao menos dois artigos, mesmo que todos os que pudesse escrever neste blog, ao longo de todo o ano, fossem três ou quatro. Deste modo, e reavendo na memória o dito acerca de a sua obra se centrar na produção contista, trouxe das estantes da biblioteca um exemplar de contos de Mário de Sá-Carneiro, para que eu fosse capaz de hoje, segunda-feira, vir falar-vos do seu conteúdo.

Atá ao dia, nunca eu tinha lido verdadeiramente este autor, e a surpresa atendeu ao que eu não esperava encontrar: um escritor de extrema simplicidade mas de grande técnica expositiva, que, com a sua narrativa, capta as vontades dos leitores. O conto era bastante curto, chamava-se Sexto Sentido e tratava exactamente o que diz o seu título. Aproveita a ocorrência de haver escrito como título esta expressão para, no início do conto, explicitar o seu conceito, pela boca de uma autoridade da altura, o Doutor Gouveia, muito conhecido de Mário de Sá-Carneiro. Afirma então que o sexto sentido há-de desenvolver-se no corpo humano segundo a evolução da espécie, como um órgão que tende sempre a aperfeiçoar-se. Consistirá numa noção de tudo o que nos rodeia, por assim dizer: sentiremos então o que os outros sentem somente por os olharmos, e logo nos virão as emoções dessas pessoas como sentimos as nossas próprias. O sexto sentido também permitirá reconhecer o que de próximo acontecerá no tempo, como previsão do futuro chegado. Compreende-se pela noção que não reproduzi do livro que o sexto sentido é uma espécie de detector que nos concederá a sabedoria quase completa do mundo em que vivemos; deixaremos de ser o que somos para sermos, assim como todos, o colectivo.

Nesta teoria (não sei até que ponto fundada em estudos verídicos), o autor apresenta ao leitor um outro amigo seu, cujos pais chamaram de Patrício Cruz, também este contista, que, tempos depois, confia uma informação só a Mário de Sá-Carneiro: o sexto sentido, que se desenvolve na espécie humana, existe nele já em estado próximo da perfeição. Não sabemos, como não o soube Sá-Carneiro, se acreditar na veracidade do que nos conta Patrícia Cruz. No entanto, realidades factuais obrigam-nos a atentar mais ao improvável: Mário de Sá-Carneiro, sozinho em casa e sem telefones (como nos diz a lógica temporal), preparava-se para escrever uma carta ao seu amigo, quando este invade a sua morada e o olha nos olhos, dizendo que não precisará de lhe escrever aquela carta, pois está agora defronte dele. E mais, que após a terrível revelação da sua posse do sexto sentido (aterradora a quem não a esperava), Patrício Cruz grita que sua mãe se encontra a padecer e deixa a casa do nosso escritor. Estes sucessos, que mais parecem ficção científica contemporânea, não me garantem a total e absoluta realidade dos factos, muito por nunca eu haver ouvido falar de Patrício Cruz e não saber se ele, de facto, existiu, ou se antes pertencia ao mundo aparte que Mário de Sá-Carneiro construía com base nos seus sofrimentos do mundo real. Porém, termina o conto a referir o estado em que persiste Patrício Cruz, enlouquecido e que, por repetidas vezes, tentou o suicídio, alegando que é terrível saber de tudo, sentir tudo em simultâneo, que se perde a identidade pessoal e o amor às pequenas coisas - tudo se torna desproporcionado, e o pequeno que somos com dificuldade abarca e tudo que sabemos e sentimos. Fechemos os olhos e entremos nesta fantasia... percebemos mal, por tentar perceber, mas percebemos o suficiente para dar razão a quem o sentiu e disse horrores disso. Concluímos todos, do curto conto que Mário de Sá-Carneiro escreveu, que preferível é, inquestionavelmente, permanecer na ignorância do que saber tudo o que há. O escritor mostra, desta forma e através da boca de outrem, que não apoia a ciência nem as suas ambições de sexto sentido, isto é, de prever o futuro a curto prazo e de compreender tudo o que nos rodeia. Todos sabemos já, por anteriores palavras que escrevi, que a mente de Sá-Carneiro estava já cheia, como já estando demasiado farta ao nascer e assim continuasse até ao seu suicídio.

Na semana que se há-de aproximar trarei o início da minha abordagem a Fernando Pessoa, o grande poeta do século XX e uma personalidade reconhecida da História da literatura universal. Não sei ao certo como cumprir o dever de o tratar, mas disponho de uma semana para o descobrir e o concretizar em palavras, em sílabas, em letras.

sábado, janeiro 17

Cinema: A Produtora dos Anos 30


A Tobis Portuguesa foi criada no inicio dos anos trinta com o objectivo de fomentar a produção cinematográfica em Portugal.

Desde 3 de Julho de 1932, a Tobis Portuguesa dedicava-se à realização de filmes e à sua elaboração em laboratórios. Em 1955, a Lisboa Filme, uma das produtoras mais importantes, realiza uma união com a Tobis à qual os direitos dos filmes produzidos pela Lisboa Filme nas décadas de 30, 40 e 50 são atribuídos, fazendo agora parte do Catálogo de produções cinematográficas da Tobis.

Dos filmes dos quais os direitos de autor a Tobis Portuguesa possui agora, podemos destacar filmes como “A Canção de Lisboa”, 1933; “A Costa do Castelo”, 1943; “Leão da Estrela”, 1944; “Benilde ou a Virgem Mãe”, 1970 entre outros.

Ao desenrolar dos anos, a produtora portuguesa deixa a actividade de produções cinematográficas. Dedica-se então ao desenvolvimento de serviços de apoio de pré-produção. Este novo serviço, que dispõe de equipamento moderno e de profissionais especializados, permite que um cliente possa produzir trabalhos rigorosos e de qualidade, tanto em áreas com o cinema mas também na área da televisão e publicidade com a disponibilidade de apoios todo o ano, 24 horas por dia.

Recentemente, como comemoração dos 75 anos, com o intuito de melhor a divulgação dos seus serviços e trabalhos, criou um site na Internet (www.tobis.pt), um meio fortemente acedido por qualquer pessoa.

Neste site, podemos não só aceder a uma Área de Cliente, onde os visitantes tomam o conhecimento sobre todos os processos pelos quais passam os filmes, spots publicitários ou uma série televisiva. Temos também ao nosso dispor uma secção onde são apresentadas vários serviços aos quais podemos aceder. Temos outras secções onde podemos tomar conhecimento sobre as produções tanto cinematográficas, de publicidade entre outras; e também uma secção onde podemos ter acesso a notícias sobre variados temas relacionados com o cinema e a televisão.
Não só podemos aceder aos serviços da Tobis Portuguesa pelo site com também ir às suas instalações. Aqui fica um croqui com a localização de produtora.


sexta-feira, janeiro 16

Arte Popular: O cavaquinho

O cavaquinho é um instrumento popular de pequenas dimensões, do mesmo género da viola de tampos chatos e da família das guitarras europeias. Dentro da categoria geral com aquelas características, existem actualmente em Portugal continental dois tipos de cavaquinhos, que correspondem a outras tantas áreas: o tipo do Minho (minhoto) e o tipo de Lisboa (lisboeta).

Minho

É sem dúvida fundamentalmente no Minho que o cavaquinho aparece hoje como uma espécie tipicamente popular, ligada às formas essenciais da música característica desta província.
O cavaquinho é um dos instrumentos favoritos e mais populares das rusgas minhotas partilhando com elas, e com o género musical que lhe é próprio, um carácter lúdico e festivo do qual se excluem outros usos cerimoniais ou austeros. Usando-se sozinho, com função harmónica e para acompanhamento do canto, o cavaquinho aparece frequentemente acompanhado pela viola ou outros instrumentos.



1. Minho, Boca redonda
2. Minho, Boca redonda


3. Minho, Boca de raia



4. Minho, Cabeça em leque

Lisboa
O cavaquinho de Lisboa, é semelhante ao minhoto pelo seu aspecto geral, dimensões e tipo de encordoamento. Difere essencialmente deste pela escala que é em ressalto e elevada em relação ao tampo O cavalete difere do dos cavaquinhos minhotos, tratando-se de uma espessa régua linear com um rasgo horizontal escavado a meio onde a corda prende por um nó corredio.
O cavaquinho parece ser aqui um instrumento de tuna com carácter urbano e sobretudo burguês que, em meados do século XIX, os mestres de dança da cidade terão certamente utilizado nas suas lições, sendo ocasionalmente tocado por intérpretes femininos.



5. Lisboa, Cavaquinho

6. Lisboa, Cavaquinho de 6 cordas

quarta-feira, janeiro 14

Pintura: Um génio que defeniu um movimento

Apesar de na semana passada vos ter informado que iria, nesta semana, começar uma nova fase que englobaria o neo-realismo e o neo-impressionismo terminando assim na anterior semana os meus artigos sobre o modernismo, vários colegas me alertaram para o facto de eu me ter esquecido de uma personalidade importantíssima do modernismo: Amadeo de Souza-Cardoso. Visto isto decidi que hoje iria falar-vos deste pintor fantástico de que já falei na nossa Exposição sobre o Inicio do Século XX em Novembro de 2008.

Amadeo de Souza-Cardoso nasceu em 1887 e veio a morrer muito novo em 1918. Amadeo provinha de uma família burguesa rica o que facilitou a sua entrada no curso de Direito da Universidade de Coimbra, no curso de Arquitectura da Academia de Belas-Artes e a sua ida para Paris em 1906.

O envolvimento com o meio artístico de Paris e com as vanguardas que eclodiam pela Europa no início do século XX fez deste pintor um dos pintores portugueses mais geniais e versáteis, pois como ele próprio disse, ”Sou impressionista, cubista, futurista, abstraccionista? De tudo um pouco.” Esta frase revela um pouco todas as correntes que envolvem as suas obras resultando num trabalho fantástico e noutra corrente diferente, a de Amadeo de Souza-Cardoso.
Amadeo viveu as vanguardas que absorveu durante o período em que esteve em Paris muito intensamente. Decompôs as figuras à maneira cubista, geometrizando as formas mas usando cores vibrantes, utilizou colagens com vários materiais e também experimentou técnicas do abstraccionismo e do expressionismo.




Apesar de ter tido uma morte prematura, morreu aos 31 anos, criou durante a sua vida uma quantidade enorme de obras de muita boa qualidade que se tornaram uma referência do movimento modernista português não só no nosso país como no estrangeiro. Em 1925, 7 anos após a sua morte, realizou-se uma retrospectiva do pintor em França que albergava cerca de 150 trabalhos da sua autoria! As obras foram muito bem recebidas pelo público e pela crítica. 10 anos mais tarde, em 1935, é criado o Prémio Souza-Cardoso que tinha como objectivo distinguir pintores modernistas.

Depois de vos ter apresentado este genial pintor português, posso vos assegurar que no próximo artigo de blog já não voltarei a trás na minha palavra e começarei com a seguinte fase.

segunda-feira, janeiro 12

Música: Eurovisão, nos seus primeiros quatro anos



1964 Oração, António Calvário





1965 Sol de inverno, Simone de Oliveira



1966 Ele e ela, Madalena Iglésias





1967 O vento mudou, Eduardo Nascimento




Estas foram as quatro primeiras interpretações portuguesas no Festival da Eurovisão, festival esse onde se têm descoberto, desde há 44 anos, alguns dos maiores êxitos da música portuguesa.
Dos quatro acima referidos destaca-se António Calvário, que sendo o pioneiro nestas andanças musicais por palcos televisivos europeus, se torna no embaixador primeiro da música portuguesa, com este tema de cariz religioso, com uma força extraordinária da voz do primeiro cantor português que...saiu do armário (mais uma vez pioneiro, este senhor).
Reza a lenda (se é que se pode chamar a isto lenda, e não facto histórico), que após a actuação de António Calvário, alguém se manifestou contra os regimes fascistas português e espanhol...porém as câmaras não o mostraram.



Simone de Oliveira teve uma grandiosa prestação em 1965, mas seria mais tarde, com a "Desfolhada portuguesa" que viria a alcançar o seu auge. Os versos desta canção, "Sol de Inverno" são maravilhosos, e um instrumental remete para o jazz, tão esquecido na primeira metade do século. Um verdadeiro clássico.



Quanto a Madalena Iglésias, e a sua prestação de "Eu e ela"...não preciso de proferir quaisquer palavras. A canção fala por si! Absolutamente festivaleira, de ficar no ouvido, interessante, com melodias fantásticas, uma verdadeira diva do pop português, sem quaisquer reminescências de pimba e piroso!



Eduardo Nascimento, que nem Barack Obama da música portuguesa (perdooem-me a analogia, mas foi irresistível), arrasou em 67, com os seus movimentos soul, e voz poderosa. Em 2008, no programa "A minha geração", da RTP 1, voltou a interpretar a mesma canção ao lado de Teresa Radamanto.




Na próxima semana, teremos no artigo, artistas Carlos Mendes e Tonicha.

Literatura: A dor e o drama de quem cedo nos deixou

"Sou todo incoerências. Vivo desolado, abatido, parado de energia, e admiro a vida, entanto como nunca ninguém a admirou!" Disse, ou por outra, escreveu isto Mário de Sá-Carneiro, e mais acertadas não podiam ser as suas palavras, não somente pela lógica verdade de ser habitual conhecermo-nos a nós próprios com mais rigor do que os outros que nos olham, mas muito também porque este drama da psicologia deste autor verificou-se naquilo que ele fez da sua curta vida, e mais ainda se verificou na forma como ele mesmo, aos vinte e seis anos, lhe marcou o trágico final.

A tragédia da sua vida não difere longamente da de muitas outras pessoas, marcada com dureza por males sucessivos e mais ou menos contínuos que nos atormentam e levam ao fundo de um mar de angústias. Todavia, as tormentas deste homem recaíram sobre si quando apenas, também sobre si, recaíam somente poucos anos de idade. Isto uma vez que se viu desprovido da presença de ambos os pais muito precocemente, tendo vindo a habitar Camarate com os avós, vivendo assim toda a sua infância sem uma devida imagem paterna ou materna, tão essenciais ao desenvolvimento de uma mente adulta e sensata. Podemos ter este episódio como o primeiro do drama da sua curta existência. Em concordância exacta com o decorrer dos tempos e anos, é facto que à medida que decrescia a capacidade de enfrentar os problemas que se avizinhavam, em oposição crescia em Sá-Carneiro um génio, pois que é mais que talento, sempre e sempre mais demarcado. Aos dezasseis anos de percurso no mundo, e mais de metade desse percurso, sem que qualquer espécie de gente pudesse imaginar, estava já atravessado, fazia já traduções de mestres da literatura europeia da centúria anterior, nomeadamente vultos como o alemão Goethe e o francês Victor Hugo.

As várias vidas que tem o ser humano, e quero dizer a vida física, psicológica e social, todas sem excepção assinalaram um caminho semelhante: o caminho do desgaste e da queda gradual. Como com facilidade concordaremos, não há no homem idade mais propícia aos desentendimentos do passado com o presente do que a época da adolescência, e figura ser natural, por demais natural, que todas as suas angústias, se eram já tão elevadas, atingissem um nível ainda superior e que anunciasse um fim possivelmente próximo. E assim ocorreu. Na verdade, nunca sabia concretamente o que queria, ou se nada queria fazer por si. Se Coimbra era a cidade universitária única que o país oferecia aos jovens, para lá se haveria de encaminhar, mais tarde ou mais cedo, um cérebro como o que estamos a tratar. Matriculou-se em Direito e lá conheceu o seu eterno amigo Fernando Pessoa, com quem viria a fundar a revista modernista Orfeu. Direi eu que foi dos conhecimentos culturais mais frutíferos da história da literatura portuguesa, acima, por exemplo, da grande amizade e companheirismo entre Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, que juntos produziram duas obras de extrema qualidade. Fernando Pessoa dedicou poemas ao seu amigo Mário de Sá-Carneiro, nomeadamente o poema Opiário, da autoria do heterónimo Álvaro de Campos. De pouco mais rendeu a curtíssima estadia do nosso protagonista de hoje na cidade do Mondego, e isto declaro pela súbita decisão de abandonar o seu curso; aparentemente a vida coimbrã não lhe agradava e sonhava com ambientes de um cariz boémio distinto, mais maduro, como o que só encontrou em Paris, onde veio a viver só não a tempo inteiro, se a Lisboa se deslocava por inúmeras vezes, especialmente para se encontrar com os seus amigos modernistas - a geração do Orfeu.

Foi então no seu lar, se isto podemos chamar à capital francesa, que foi composta a quase totalidade da obra literária de Mário de Sá-Carneiro, que varia essencialmente entre poemas e contos. Aproveito a ideia lançada para informar do próximo artigo que verão aqui elaborado, em que farei o resumo e a avaliação de um conto deste autor, que me comprometo a ler durante a semana que se inicia a partir deste instante.

A morte conheceu Sá-Carneiro, por iniciativa do próprio, no ano de 1916. Nos últimos dois anos de vida, ficaram registadas, nas cartas remetidas a Fernando Pessoa, as dores e os sofrimentos desta personagem incontornável da vida literária imensamente rica de que Portugal dispõe. Se muitos autores encontram no avançar da idade a real oportunidade de produzir as suas obras-primas, caso dissimilar teve, por obrigação da sua última decisão, Mário de Sá-Carneiro, sem que, no entanto, essas obras de inegável qualidade tenham deixado de surgir com a sua assinatura. Por ordem natural, a obra de Sá-Carneiro foi reconhecida especialmente após a sua morte, como o autor por várias vezes proferiu na sua vida que aconteceria.
A sua obra, falemos um pouco acerca dela, foi influenciada, quanto aos temas e a uma certa linguagem, por autores diversos como Edgar Allan Poe, Oscar Wilde, Baudelaire, Dostoévski e Cesário Verde. A título póstumo, o legado de Mário de Sá-Carneiro inspirou, entre outros, muito evidentemente o poeta português Eugénio de Andrade. Em relação às características dos seus textos, eu escolho, por sugestão de outros entendidos que escreveram nos sítios onde pesquisei, como as mais importantes entre outras, o narcisismo e o saudosismo. Este cariz egocentrista do discurso são causa e efeito dos seus dramas vividos. Assim sucedendo, os pequenos movimentos do modernismo literário em que Mário de Sá-Carneiro se inseriu, como o interseccionismo, o decadentismo, o paulismo e o futurismo, permitiram ao escritor expressar toda a sua dor de viver e de existir, vendo sempre a morte como a solução única e nem por isso difícil de alcançar, para a ela chegar bastaria a vontade de andar o caminho que o separava dela. Acabou a sua vida, mas a nós deixou a exaltação de cada uma das suas emoções, como havendo sido um enviado do além à Terra para ser em grande aquilo que todos nós somos em ponto diminuto, sentindo demais aquilo que a alguns foge aos sentidos. Pareci religioso ou fanático? Perdoem então, e vivam a vida.

sábado, janeiro 10

Cinema: O Estado Nove recheado de Sonoridade e de Censura

A introdução do som nos filmes portugueses, permitiu aos realizadores explorarem novos e mais apelativos estilos cinematográficos. Antes disto, realizavam-se complicadas e nem sempre perfeitas dobragem que complicavam todo o processo de realização. O som veio facilitar e, de certa forma, melhorar o cinema em português.


Não só o som veio alterar o rumo do cinema português. Também o governo de António Salazar o fez, através da Censura. Salazar reconhecia o poder que o cinema exercia sobre as pessoas. Assim, através da arte cinematográfica conseguia transmitir as suas ideologias e apenas se podia ver o que fosse do agrado do ditador. Para que tal fosse conseguido surge primeiro a Inspecção Geral de Teatros (IGT) e em 1944 é reorganizada e passa ao Serviço Nacional de Informação (SNI), dirigido por António Ferro, o poder da censura sobre peças de teatros e películas cinematográficas.


A censura de cenas e/ou filmes era justificada por estes serem “fitas perniciosas para a educação do povo, de incitamento ao crime, atentatórias da moral e do regime politico e social vigorantes”. Assim, todas as cenas que mostrassem violência contra homens e mulheres, personagem nuas, assassínios, operações cirúrgicas e casas de prostituição eram excluídas dos filmes que passassem pelas mãos da Censura.


Filmes como “Sofia e a Educação Sexual” de Eduardo Geada, “Nojo de Cães” de António de Macedo, “Nem Amantes, Nem Amigos” de Orlando Vitorino, “Deixem-me ao Menos Subir às Palmeiras” de Lopes Barbosa e muito outros não tiveram a aprovação da Censura e assim, muitos realizadores viram as suas criações ficarem nas estantes à espera que anos mais tarde pudessem ser apreciados pelo público.


Apesar de muito filmes terem sido proibidos pela Censura, muitos outros foram reduzidos mas ainda assim tiveram sucesso entre o público, como “Maria Papoila” de Leitão de Barros que nos apresenta a história de uma rapariga humilde, em 1937.
Os filmes que eram exibidos ao público português durante o Estado Novo eram somente aqueles que não fossem contra as ideologias Salazaristas. Os realizadores viam as suas asas cortadas para nova experiencias e o público limitado a filmes que o Estado decidia poderem ser exibidos, sendo-lhes apresentado um leque pouco diversificado numa época de inovações.

sexta-feira, janeiro 9

Arte Popular: Cozido à Portuguesa

Ingredientes:

· Carne de vaca para cozer;
· Meia galinha;
· 1 Pé de porco, entrecosto, chispe;
· Presunto, chouriço, farinheira, salpicão;
· Toucinho salgado, bacon;
· Orelheira fresca e fumada;
· Couve portuguesa (penca) ou coração;
· Cenouras, batatas, nabo;
· Sal e azeite

Confecção:

Numa panela grande coza em água todas as carnes.
Aquelas que forem salgadas devem ficar de molho umas horas, só depois se podem pôr a cozer.
Regue a água da cozedura com um fio de azeite e tempere a gosto.
Por ordem de cozedura mais rápida, vão-se tirando os enchidos, depois as carnes de porco, e só no fim, depois de bem cozida, a carne de vaca.
Nesta água de cozer as carnes, meta os legumes já mencionados no início.
Quando cozidos, retire a panela do lume, deixando os legumes dentro.
Para servir, corte as carnes, disponha numa travessa com os respectivos legumes.
Acompanha feijão branco cozido, cozido na água dos legumes, e arroz de forno ou branco.

quarta-feira, janeiro 7

Pintura: Modernismo em Portugal - Exposição da Fundação Calouste Gulbenkian

Antes de mais começo este artigo por vos justificar o porquê de nas últimas duas semanas não ter publicado nenhum artigo no blog às quartas-feiras como é habitual. A razão é muito simples, infelizmente as festividades desta época incidiram ambas à quarta-feira e à quinta-feira fazendo com que, devido aos preparativos festivos e às reuniões de família, não fosse possível elaborar os artigos e publicá-los por falta de tempo e também um pouco por esquecimento.

Esta semana encerro em definitivo o movimento que tenho vindo a abordar, o Modernismo Português.

Para poder elaborar uma melhor conclusão deste movimento visitei, no passado dia 30 de Dezembro, o Centro de Arte Moderna na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa.

A exposição permanente do Centro de Arte Moderna é uma exposição a não perder por todos os amantes de pintura e até por aqueles que não se interessam por esta arte mas que sintam curiosidade em relação às fantásticas obras deixadas pelos pintores portugueses do século XX. É na galeria do piso 01 que se encontram as relíquias do Modernismo Português. Desde os espantosos quadros de Amadeu de Souza-Cardoso, passando pelo famoso retrato de Fernando Pessoa elaborado por Almada Negreiros e pelos quadros que retratam o surrealismo no nosso país, esta exposição é o culminar de tudo aquilo que vos falei nos meus artigos.

Ver todas aquelas obras ao vivo faz-nos entender melhor a época, os autores e entrar na sensação de vanguarda e de ruptura com a sociedade que estes pintores pretendiam através das suas obras.

Aconselho vivamente a visitarem não só esta exposição como as outras exposições da Fundação Calouste Gulbenkian e também o restante espaço constituído por bonitos e calmos jardins e uns habitantes muito simpáticos.

Encerrando assim as primeiras décadas do século XX, continuarei os meus artigos com os movimentos artísticos seguintes. Após alguma pesquisa deparei-me com o facto de que, a nível da pintura, torna-se mais difícil encontrar informação sobre a segunda metade do século XX. Desta forma os meus artigos continuaram a ser maioritariamente biografias que ilustraram pintores do neo-realismo, neo-impressionismo e da pintura intervencionista. Espero assim conseguir-vos mostrar a grande variedade de movimentos e artistas que surgem nos últimos 50 anos do século XX.

terça-feira, janeiro 6

Música: Amália IV: Os últimos anos da lenda imortal

A partir dos anos 70, a senhora da voz continuou a dar espectáculos um pouco por todo o mundo, edita álbums vários (entre eles "Maldição" em 1973, e "Lágrima" em 1983), trabalha com o Frei Hermano da Câmara e com Carlos Paião.

Nos anos 80 começa a lançar os seus primeiros "Melhor de Amália", e na medida em que uma compilação em CD de uma carreira, é sinónimo de sucesso, nos anos 80 nenhum único ser duvidava de que Amália era o fenómeno, e provavelmente, ninguém teria o impacto que ela teve. A prová-lo estão as vendas do duplo álbum "O Melhor de Amália - Estranha Forma de Vida", superiores a 100 mil exemplares no ano de 1985. Ainda nesse ano dá o seu primeiro grande concerto a solo em solo português, no Coliseu dos Recreios.

As homenagens multiplicam-se, sendo que em 1985 o dia 6 de Outubro torna-se, em Toronto (Canadá), o Dia Oficial de Amália Rodrigues; e em 1989 Amália é recebida em audiência privada pelo papa João Paulo II.

Os anos 90 proliferam em CD's de Amália, devido ao desuso do vinil e do LP. E não obstante os 54 anos de carreira, grava, em 1993, um disco com o napolitano Roberto Murolo.

EM 1996 a desgraça chega, e a doença cala a voz de Amália. No ano seguinte, a EMI-VC edita o álbum "Segredo", galardoado com um disco de platina, por vendas superiores a 40 mil cópias. Este viria a ser a derradeira obra da Fadista de Portugal. Em 1999 termina um ciclo, uma vida, uma obra....

No dia 6 de Outubro de 1999 (curiosamente o Dia Oficial de Amália Rodrigues em Toronto), a mulher que encantou multidões de lusitanos, deu esperança aos homens que iam para a guerra, conquistou o mundo, apaixonava os ouvidos, e tocava nas almas...

Amália Rodrigues partiu.

Mas como se pode dizer que Amália partiu, se ela ficará sempre? Como se pode conjugar o verbo morrer na mesma frase em que o seu nome é mencionado, se a eternidade da sua voz é inquestionável?

Não. Amália nunca morreu. Nunca morrerá. Pelo menos enquanto os corações com alma portuguesa baterem. E baterão até ao fim dos tempos.







As imagens apresentadas neste artigo são pinturas de Henrique Robó, Júlio Quaresma e Pedro Leitão (de cima para baixo)



Recomendo vivamente que oiçam Amália. Sejam felizes!